Um aplicativo que consiga
identificar quem ao redor está infectado com o novo coronavírus e ajude a
acelerar o achatamento da curva epidêmica já existe, a dificuldade agora é
colocar a plataforma que o possibilite no ar. Uma das pessoas à frente da
pesquisa que levou à criação da plataforma, o epidemiologista computacional
Jones Albuquerque, pesquisador do Laboratório de Imunopatologia Keizo-Asami
(LIKA), da Universidade Federal de Pernambuc,o e do Instituto para Redução de
Riscos e Desastres de Pernambuco explica que a plataforma está pronta para ir
ao ar, só depende de financiamento.
O modo de operação da plataforma
combinaria resultados de testes para o coronavírus com gráficos
disponibilizados em tempo real. “O nível básico dessa plataforma são testes
moleculares na população e uma das empresas que opera esses testes junto com o
LIKA é a empresa Genômika”, explica Albuquerque, que é diretor da Epitrack,
empresa especializada em dados epidemiológicos. “Assim que a técnica de
laboratório realizar o exame, imediatamente os dados desse exame estarão na
plataforma em gráficos em tempo real.”
Jones explica que a plataforma já
foi testada em algumas ocasiões, como durante a Copa das Confederações, em
2013, quando o Saúde na Copa ajudou a controlar a epidemia de dengue e
chicungunha. Entre 2015 e 2017, outro teste foi realizado nos Estados Unidos,
já que a pesquisa tem parceria com o Massachusetts Institute of Technology
(MIT), com uma plataforma chamada de Flu near you, colocado em funcionamento
com o Boston Children Hospital. Durante os Jogos Olímpicos no Brasil, em 2016,
o mesmo sistema foi usado para controlar os surtos de zika e chicungunha. “Em
2019, o Malaui entrou em estado de emergência por causa do ciclone Idai, que
devastou Moçambique também, e a gente prestou assistência e colocou um
protótipo dessa plataforma no ar”, conta Albuquerque. A tecnologia teria
ajudado a controlar a disseminação da cólera nos dois países.
Segundo o epidemiologista, a
plataforma auxiliaria no controle do coronavírus com muito mais eficiência do
que as despistagens que têm sido feitas até agora. “Como funciona? A gente faz
o exame, o indivíduo foi infectado liga o app dele e habilita ‘estou infectado’
e passa a andar com bluetooth ligado”, explica. “QUando outro indivíduo ligar o
app para caminhar na rua, conseguirá saber em tempo real quem são os infectados
próximos dele, assim vai conseguir andar em locais seguros mantendo distância
segura porque o app vai avisar”.
O epidemiologista garante que o
sistema minimiza o impacto da falta de reagentes para testes moleculares em
falta. “A amostragem fractal calibra o teste de infectados e sorteia alguns no
resto da população, por isso não precisa do teste em massa total. Claro, o
teste em massa total é o mais fiel que poderíamos ter”, diz.
Para conseguir os R$ 4 milhões
necessários para um mês de funcionamento do aplicativo, Jones Albuquerque
colocou no ar um crowdfunding que já conta com mais de US$ 4 mil. A corrida,
segundo ele, é contra o tempo porque, em breve, o Brasil vai atingir a curva do
pico da doença. Além do dinheiro, a plataforma precisaria também da colaboração
de outras plataformas, como Uber, Ifood, Google e Amazon, para integrar dados e
otimizar a eficiência do aplicativo. “Preciso dos dados deles, preciso que eles
abram as plataformas locais deles para que todas essas camadas possam integrar
a plataforma para a gente poder abrir”, diz.