O papa Francisco manifestou neste
domingo (8), pela primeira vez por "streaming" feito da biblioteca do
palácio apostólico, "sua proximidade" com os doentes de coronavírus.
Depois disso, aproximou-se da janela para compartilhar sua bênção.
"É estranha esta oração do
Ângelus, com um papa enjaulado na biblioteca. Mas eu os vejo e estou próximo de
vocês", afirmou, antes de se aproximar da janela, diante de alguns poucos
fiéis espalhados na praça de São Pedro.
O Vaticano já tinha anunciado
ontem que o papa faria sua oração dominical por "streaming", direto
da página Vatican News, para atender às medidas exigidas pelo governo italiano
de contenção do vírus.
Esta é a primeira vez que o papa
argentino recorre a esse sistema, já usado no passado por João Paulo II quando
estava muito doente, ou pouco depois do atentado do qual foi alvo em 1981.
"Fazemos isso para cumprir as determinações preventivas e evitar possíveis
contágios", explicou Francisco, que se aproximou da janela por alguns
segundos "para ver um pouco de mundo real".
Com a medida, o objetivo da Santa
Sé foi evitar aglomerações na praça de São Pedro, como é habitual. A enorme
esplanada estava quase vazia, com as pessoas mantendo mais de um metro de
distância entre si. Não havia filas, como costuma acontecer, para passar pelos
controles de segurança.
"Estas decisões são
necessárias para evitar os riscos de difusão da Covid-19, devido às
aglomerações nos controles de segurança para ter acesso à praça, como pedem as
autoridades italianas", explicou o Vaticano em um comunicado. "Me
sinto perto das pessoas que sofrem a atual epidemia de coronarívus e de todos
que se preocupam com elas", acrescentou o papa, em sua saudação final.
Rigor nas medidas
No vídeo, Francisco também enviou
uma mensagem de solidariedade aos que sofrem outra tragédia: a guerra na Síria.
"Especialmente aos
habitantes do noroeste da Síria, obrigados a fugir dos recentes acontecimentos da
guerra", disse ele, reiterando sua preocupação com "as crianças"
e com "as pessoas indefesas" desse país.
Francisco convidou os fiéis a
"viverem este difícil momento com a força da fé", o que foi percebido
por alguns dos presentes na praça. "Ele apareceu uns 30 segundos. Sentimos
que podemos voltar para nossas casas, embora é claro que tenha preocupação com
o que acontece no mundo", comentou Fabio Di Costanza, um jovem napolitano.
Para alguns turistas, que
aproveitam uma Roma deserta, as medidas são exageradas. "Há um pânico
desnecessário", afirmou o inglês Kirsten Wilson, de 47 anos.
Para a mexicana Monserrat
Pagatella, uma médica de Puebla de 43 anos, ver o papa pela janela, e não mais
próximo da multidão, é antes de tudo uma medida de precaução para com o próprio
Francisco.
"No México, tivemos a
epidemia de influenza, que teve maior mortalidade. A verdade é que não foram
tomadas medidas tão drásticas quanto na Itália", observou.
Até 15 de março, não será
permitido que os fiéis participem das missas na residência Santa Marta. Além
disso, o sumo pontífice celebrará a eucaristia em privado.
Já a Basílica de São Pedro
permanecerá aberta, com um gradual fluxo de acesso.
A audiência semanal do papa, às
quartas-feiras, "será realizadas nas mesmas condições", ou seja, por
"streaming". Há mais de uma semana o papa, de 83 anos, não sai do
Vaticano.
Menor Estado do mundo, com 0,44
km2 e 450 habitantes, o Vaticano anunciou na sexta-feira seu primeiro caso de
coronavírus.
O caso foi detectado em um
modesto centro médico, situado próximo a uma das portas de acesso ao território
desse micro-Estado cravado no coração de Roma.
O governo italiano decidiu, neste
domingo, pôr em quarentena mais de 15 milhões de pessoas no norte do país,
cerca de 25% da população total, em uma medida sem precedentes para tentar
conter o avanço do novo coronavírus no território.
No decreto sancionado pelo
primeiro-ministro Giuseppe Conte, o governo também determinou o fechamento de
museus, teatros, cinemas, salas de concertos, pubs, salões de jogos e outros
estabelecimentos similares em todo país até 3 de abril.
As competições esportivas ficam
suspensas, embora alguns eventos possam ser realizados a portas fechadas, ou
seja, sem público.
Agence France-Presse