Segundo a Sesai, são nove
confirmações da doença na população indígena do Estado. O número, no entanto,
pode ser muito maior, segundo avaliação de lideranças. Eles alertam para alta
subnotificação e criticam a ausência de testes
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Segundo a Federação dos Povos
Indígenas do Ceará, somente na etnia Tapeba são oito casos confirmados Foto:
Fabiane de Paula
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O avanço dos casos confirmados da
Covid-19 nas comunidades indígenas cearenses é uma realidade amarga que
evidencia velhas e históricas negligências a este povo. O Ceará já notificou
nove indígenas confirmados com o vírus, o que torna o Estado com o maior número
de casos no Nordeste e quinto do Brasil. Os dados são do boletim diário emitido
pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde,
divulgado às 17 horas de ontem (7). O número, no entanto, tende a ser maior,
visto que há dificuldades na notificação dos casos.
Conforme a Secretaria de Proteção
Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos humanos (SPS), o Ceará possui
mais de 35 mil indígenas em 20 municípios. Esta população é atendida, segundo a
Sesai, por 24 Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena de 18 Unidades
Básicas de Saúde Indígena (UBSIs).
Weibe Tapeba, liderança indígena
e assessor jurídico da Federação dos Povos Indígenas do Ceará, avalia que o
sistema de saúde indígena dos distritos sanitários não está correspondendo à
urgência da pandemia. "Temos presenciado uma verdadeira omissão por parte
do Governo Federal", avalia. Isto faz com que haja, por exemplo,
"limitação de máscaras, álcool em gel e luvas para os profissionais de
saúde" que atuam nas aldeias. "É uma realidade de diversos
territórios indígenas do nosso Estado", acrescenta.
Testes rápidos
Outro ponto que dificulta a
notificação dos casos e adoção de estratégia para mitigar a disseminação do
vírus, é a quantidade limitada de testagem nos casos suspeitos. Esse cenário é
generalizado. "É uma regra", lamenta Weibe. Segundo dados repassados
pela Federação dos Povos Indígenas do Ceará, somente entre o povo Tapeba, no
município de Caucaia, havia oito casos positivos em indígenas, até quarta-feira
(6). O número era maior ao total observado no Estado pela Sesai (7), naquela
mesma data. "Há uma divergência de informações entre os pólos-bases com a
sede no distrito, em Fortaleza. E existe também uma falha de comunicação neste
registro com a base do Ministério da Saúde", explica Weibe, ao considerar
que o número de índios infectados é bem maior do divulgado pela Sesai. Uma fonte
ligada ao Distrito Indígena, e que pediu para não se identificar, explicou que
há um atraso no processo de envio das informações ao banco de dados da Sesai.
"O número pode dar
divergência", reconhece. Ainda na comunidade do povo Tabepa, a Federação
afirmou haver 11 casos suspeitos de estarem contaminados. Na mesma data, a
Secretaria Especial contabilizava 17 casos em investigação em todo o Estado.
Outro agravante está no fato de
somente os dados de aldeados serem contabilizados. "A própria Sesai não
tem muito como acompanhar porque o Sistema de Saúde Indígena só permite o
atendimento dentro dos territórios, na atenção básica. O indígena que está em
contexto urbano não consegue ser notificado como paciente indígena com caso
confirmado ou com óbito por conta da doença", critica Weibe.
Em nota pública, divulgada no fim
de abril, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) reconhece esta
limitação e informa que tem recebido, diariamente, denúncias da falta de
assistência e testagem para casos suspeitos no Nordeste. Neste cenário, Ceará e
Pernambuco, que concentram a maior quantidade de casos confirmados do Nordeste,
demandam maior atenção. "Os 14 povos indígenas que vivem no Ceará são
grande vulnerabilidade para contaminação da Covid-19", diz nota da Apib.
Diário do Nordeste



