O Ministério Público do Ceará (MPCE) apura a relação entre policiais militares presos na Operação Espanta Raposa com ex-gestores públicos de Tianguá, na Região Norte do Estado. Entre os crimes investigados, estão corrupção e fraude em procedimentos licitatórios da Prefeitura daquele Município.
A 4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Tianguá enviou um ofício à
Vara da Auditoria Militar, da Justiça Estadual do Ceará, no último dia
20 de abril, para pedir acesso integral aos áudios da Operação. Os dados
foram obtidos pelo Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc), do MPCE,
por meio de interceptação telefônica autorizada pela Justiça. O juiz
ainda não se manifestou sobre a solicitação.
Segundo o ofício, obtido pela reportagem, "os assuntos tratados nas
conversas captadas (apenas uma parte dos áudios foi remetido a essa
Promotoria por meio de PIC - Procedimento Investigatório Criminal -
declinado pela Procap - Procuradoria de Justiça dos Crimes contra a
Administração Pública) têm relação direta com as atribuições dessa
Promotoria no combate à corrupção, lavagem de dinheiro, desvio de
recursos públicos e improbidade".
"O PIC mencionado investiga o ex-prefeito de Tianguá,
policiais militares e outros agentes públicos que, conforme elementos
colhidos, teriam fraudado a execução de contratos de locação de
veículos, com superfaturamento, favorecimentos a pessoas do mesmo grupo,
desvio de recursos, etc.", complementa o documento, sem citar qual o
ex-prefeito do Município que é investigado ou o nome de outros
suspeitos.
Demandado por mais informações sobre a investigação, o Ministério
Público do Ceará respondeu, em nota, que "os fatos relacionados a essa
investigação estão em apuração e são sigilosos. Por esse motivo, o MPCE
não irá se manifestar sobre o assunto".
Militares
Nove agentes lotados no Batalhão da Polícia do Meio Ambiente (BPMA)
foram presos na Operação Espanta Raposa, deflagrada no dia 28 de março
de 2019, por suspeita de envolvimento em uma série de crimes na Região
Norte do Ceará, como concussão (exigir vantagem indevida) e corrupção passiva.
O soldado Pablo Weslly Cavalcante de Sousa foi colocado em liberdade
em abril daquele ano; enquanto o tenente-coronel Paulo de Tasso Marques
de Paiva (comandante da unidade do BPMA de Sobral à época), o major
Francisco Marcelo Nantuã Beserra e os sargentos Raimundo Nonato Cruz,
Jorge Luís de Sousa, Marcelo Cristiano de Melo, Reginaldo Bento de
Araújo, Antônio Barbosa Filho e Décio Alves Fernandes foram soltos em
agosto último. Apesar da liberdade, os nove PMs já viraram réus no
processo. As defesas dos policiais negam o cometimento dos crimes.
Conversas
Segundo as investigações do Nuinc, o grupo de militares exigia até R$ 20 mil de empresários com frequência e, para ser atendido, ameaçava apreender materiais, fechar estabelecimentos e até prender ou matar.
Parte das conversas entre os acusados foi obtida com exclusividade
pelo Sistema Verdes Mares, no ano passado. Em uma delas, o
tenente-coronel Paulo de Tasso conta a um homem não identificado que
ameaçou um terceiro para pagá-lo R$ 1 mil semanal. Os dois riem da
situação e combinam de cobrar mais uma pessoa.
Em outra conversa, o sargento Jorge Sousa pede para o filho ir a um
galpão de um português, localizado em Tianguá, pegar um 'radem' (que, em
ciganês, significa dinheiro). Na ligação seguinte, o jovem confirma o
recebimento de R$ 800. Para os investigadores, os dois pagamentos têm
origem criminosa.
Mas os crimes militares também se davam de outras formas. Conforme a
denúncia do Nuinc, o sargento Marcelo de Melo tinha o hábito de liberar
suspeitos e materiais que eram abordados pelo Batalhão de Polícia
Rodoviária Estadual (BPRE), onde ele trabalhava antes de ir para o BPMA.
Em um dos casos, bastou um empresário de uma banda de forró, na posse
de um veículo irregular, dizer "eu sou amigo do Melo" para ser liberado.
(Diário do Nordeste)