"Minha mãe passou 22 dias afastada da gente, sem podermos vê-la e
infelizmente veio a falecer". A dor do filho, o educador social Ermeson
Farias, se mistura ao sentimento de indignação e tristeza por não ter o
direito de sepultar o corpo da mãe da maneira correta. A idosa Maria
Mirian Farias, 71, faleceu neste sábado (6) vítima da Covid-19, no Hospital Fernandes Távora, em Fortaleza,
onde estava internada há 9 dias. Segundo Ermeson, a mãe foi confundida
no momento da liberação de seu corpo com o de uma outra idosa com
"traços semelhates" aos dela.
Emerson Farias descobriu a troca de corpos após o procedimento de reconhecimento,
na manhã deste domingo (7). “Disseram que a outra família veio e
reconheceu o corpo ou então a funerária trocou”, denuncia. O hospital
garantiu um translado para o município de Santa Quitéria, a 222 km da Capital,
para onde o corpo de Mirian pode ter sido levado para ser sepultado pelos familiares da outra idosa envolvida, Maria do Carmo.
"O hospital disponibilizou o translado para levar o corpo da Dona
Maria do Carmo. Lá vai ser feita a exumação, vou reconhecer o corpo da
mãe e trazer de volta. Não sei que horas vamos voltar, mas vamos fazer o
sepultamento hoje mesmo", explica Emerson. De acordo com ele, o
procedimento deve ser simples, já que o sepultamento da dona Maria foi
neste domingo (7) e "a funerária já resolveu tudo. Então, é só trazer de
volta", pontua.
“Desde o começo quis fazer o reconhecimento do corpo. A equipe médica
disse que havia o risco de contaminação e que eu teria que me
responsabilizar caso fosse infectado, afirmando que não precisava vir.
Ainda assim, fiz", lembra Emerson. O educador social ressalta que
ninguém da admistrativo ou serviço social do hospital entrou em contato
com ele. Os procedimentos para trocar os corpos foram realizados pela
coordenadora de zeladoria da unidade.
Troca
“Ontem, a gente chegou ao hospital por volta das 14 horas. O
cemitério que iria fazer o sepultamento fica em Caucaia (na Grande
Fortaleza). Por conta do horário, achamos melhor e mais prudente fazer o
sepultamento hoje, às 9h30. Marcamos com a funerária 8h, chegamos aqui
7h40 e simplesmente o corpo da minha mãe havia sumido”, lembra Ermeson.
“Somos mais uma família a passar por isso. A gente esperava que isso
nunca fosse acontecer", lamenta a neta, Daysiane Correia, neta de
Mirian. A família também realizou um Boletim de Ocorrência (BO) em uma
delegacia da Capital para denunciar o desaparecimento de corpo.
"Eles disseram que o rapaz que veio reconhecer o corpo estava
alcoolizado e não sabe ler. Ainda assim, a gente responsabiliza o
hospital porque não tinha nenhum profissional especializado com esta
pessoa. Nos disseram que havia apenas um segurança e não é
responsabilidade dele fazer isso”, comenta a outra neta de Mirian,
Isabelle Farias.
(Diário do Nordeste)