Uma nova linhagem do vírus da zika está em circulação no Brasil,
segundo pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos
para Saúde (Cidacs), da Fiocruz Bahia. Por meio de uma ferramenta que
monitora as sequências genéticas do vírus, os cientistas detectaram,
pela primeira vez no país, um tipo africano dele, com potencial de
originar uma nova epidemia.
Segundo Artur Queiroz, um dos líderes do estudo, dois dados indicam que a linhagem circulou pelo Brasil em 2019:
- ela foi encontrada em dois Estados distantes entre si: no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro;
- os hospedeiros que “abrigavam” os vírus eram diferentes: um mosquito “primo” do Aedes aegypt, chamado Aedes albopictus, e uma espécie de macaco.
A descoberta foi publicada no início de junho, no periódico “International Journal of Infectious Diseases”.
Diferentes linhagens
São conhecidas duas linhagens do vírus da zika: a asiática e a africana (subdividida em oriental e ocidental).
A ferramenta do Cidacs acompanha, desde 2015, quais circulam no Brasil.
Há mudanças notáveis nas 248 sequências genéticas analisadas ao longo
do período: até 2018, a maior parte era de um subtipo asiático do
Camboja (90%). Em 2019, outro subtipo passou a preponderar: o da
Micronésia (89,2%).
O mais preocupante foi outra constatação: também em 2019, segundo o
estudo, 5,4% das sequências eram inéditas no país, de linhagem africana.
Para Queiroz, há o perigo de uma nova epidemia. “A maior parte da população não tem anticorpos para isso”, diz.
Número de casos em 2020
De acordo com o Ministério da Saúde, em 2020, foram notificados 3.692
casos prováveis do vírus da zika - número muito inferior aos 47.105
casos de chikungunya e aos 823.738 de dengue. Segundo os cientistas, com
a nova linhagem genética, a situação pode mudar.
Larissa Catharina Costa, uma das autoras da pesquisa, reforça a
importância de um monitoramento constante. “Atualmente, com as atenções
voltadas para a Covid-19, este estudo serve de alerta para não
esquecermos outras doenças, em especial, da zika. (...) Os estudos
genéticos devem continuar sendo realizados a fim de evitar um surto da
doença com o novo genótipo circulante”, diz.
(G1/CE)