Seminário debate estratégias a gestores públicos diante da crise - Política

 

Estratégias possíveis para lidar com crises no âmbito do poder público e os desafios da gestão da saúde diante da pandemia de Covid-19 foram alguns dos temas debatidos, nesta quarta-feira (24), no "Seminário de Gestores Públicos: Prefeitos Ceará 2020". Um dos participantes do segundo dia do evento, o empresário e ex-técnico da Seleção Brasileira de Vôlei, Bernardinho, fez um paralelo entre a experiência na gestão de pessoas como treinador e os desafios da gestão pública para superar a atual crise.

"Em muitos momentos de crise, eu não sabia exatamente o que fazer, o que iria dizer ao pessoal. Você não tem fórmula mágica, mas a primeira coisa que os liderados querem de um líder é se sentirem amparados", ressaltou. Para ele, uma da lições que aprendeu quando viveu momentos de crise junto à Seleção foi que "a coisa mais importante na crise é que seu time não deixe de acreditar em você".

O painel sobre "Gestão de pessoas e estratégias de superação da crise" contou ainda com a participação do ex-secretário da Casa Civil do Ceará, Élcio Batista, e teve mediação do jornalista do Diário do Nordeste, Victor Ximenes. O Seminário, que foi encerrado ontem também com outros debates, chegou à oitava edição em 2020, com organização da Prática Eventos e promoção do Sistema Verdes Mares.

Bernardinho ressaltou as diferenças entre a gestão esportiva e a gestão pública, mas defendeu que, em comum, ambas devem estar focadas nas pessoas. "A gestão esportiva tem que ser ágil e focada nas pessoas. A gestão pública tem uma série de elementos e fatores que impossibilitam certa agilidade, são questões de legislações, burocracias. Posso (no esporte) fazer mudanças que um gestor público não têm essa flexibilidade".

Ele também falou sobre a qualidade de quem atua na gestão pública em semelhança a quem ele poderia convocar para a Seleção Brasileira. "Não adianta ser tecnicamente muito bom se não tem capacidade de trabalhar como equipe, se não é disciplinado, se vê como missão dele uma missão diferente daquela que a gente entende como nossa missão. O gestor público tem de servir à população, trazer a melhor condição possível na área em que está atuando. Nós temos como missão ter o melhor desempenho possível na nossa área, mais do que observar a questão técnica, é observar essas atribuições, essas qualidades do atleta que geram um bom rendimento", afirmou o técnico.

Educação

Bernardinho citou a educação pública em Sobral, "que foi nossa primeira grande referência", para exemplificar um bom resultado coletivo. "O que gera perpetuidade é a força da cultura daquele lugar. A gente fala da educação de Sobral, que foi nossa primeira grande referência. Toda aquela instituição tem um fanático na frente, aquela pessoa fanática em entregar as coisas, uma obsessão positiva", pontuou.

Ele frisou a importância de aspectos como a integridade do gestor, a transparência dos objetivos e a capacitação para desempenhar o trabalho proposto. "O grande líder tem que se comunicar com as pessoas", destacou. Para o técnico campeão, o momento de crise requer que uma das principais atribuições de quem lida com as pessoas seja poder se conectar com elas.

"As pessoas vão escutar muito mais o que a gente faz do que o que a gente diz. O que fazemos com consistência é o que toca as pessoas, é o que fica na lembrança das pessoas", ressaltou Bernardinho.

Gestão pública

O ex-secretário Élcio Batista também falou sobre a interferência da crise nas rotinas da gestão pública. Para ele, a hora é de definir prioridades, mais do que antes.
"Numa democracia, você tem uma pluralidade muito grande, essa diversidade é de interesse e está relacionada às opções para o desenvolvimento da sociedade. Nesse momento, você tem que escutar a pluralidade, mas tem que ter a capacidade de escutar isso e estabelecer determinadas prioridades sobre o que será feito. Antes, nem tudo podia ser feito, agora mais ainda nem tudo pode ser feito. Agora, você precisa diminuir as incertezas com a transparência, informando às pessoas o que vai acontecer na vida delas", destacou.

Élcio Batista ressaltou ainda que um dos objetivos do Governo Camilo Santana (PT), do qual era secretário, é estender para todo o Estado o programa de gestão de pessoas que já é aplicado na área da Educação e que está em fase de aplicação na Saúde.

"Ele (programa) valoriza o mérito, a capacitação das pessoas, ele ajuda a desenvolver, a motivar as pessoas, busca criar e fortalecer os propósitos relacionados ao setor público, as entregas que precisamos fazer à sociedade, com serviços públicos mais equitativos e eficientes", detalhou o ex-secretário.

Além disso, outro foco, segundo Élcio Batista, é aperfeiçoar os mecanismos de verificação do trabalho dos servidores públicos de forma a melhorar a remuneração e a qualidade do serviço. "Precisamos rediscutir a gestão de pessoas no setor público", ressaltou.

Saúde

A preocupação com possível falta de medicamentos para tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus no País, a estrutura do sistema público de saúde para o risco de uma segunda onda da pandemia e a manutenção da estrutura após uma melhoria do cenário atual no País também foram pontos em destaque no painel sobre "Gestão da Saúde Pública e a Covid-19".

"Estamos prestes a ter desabastecimento em todos os estados de medicamentos que a gente chama de 'kit de UTI': relaxante, anestésico, etc. Está tendo reunião por hora para saber como suprir via Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), como pressionar a indústria. Vamos competir de novo na área internacional por medicamentos. Isso demonstra um erro grave de política de planejamento nacional", disse o secretário executivo do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde, Jurandir Frutuoso.

O debate contou com a presença também do secretário da Saúde do Ceará, Dr. Cabeto; do supervisor do Núcleo de Desenvolvimento Social da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Denílson Magalhães; do diretor Presidente do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), Flávio Deulefeu; e do consultor em saúde da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece) e ex-deputado, João Ananias; além do presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, Wilames Freire.

Compras

A mediação foi do ex-deputado e pesquisador da Fiocruz, Odorico Monteiro. Ele frisou, dentre outros pontos, a carência do País em produzir os insumos básicos para combater a pandemia da Covid-19 e a dificuldade de gestores na corrida mundial para comprar equipamentos.

A crise de acesso a insumos e equipamentos tem assumido novos contornos. "Nosso problema hoje não é a questão financeira. Estados e municípios têm recursos para comprar os medicamentos que compõem o 'kit UTI'. Nossa questão é ter acesso aos medicamentos", destacou Wilames Freire. Segundo ele, está sendo pedido ao Governo Federal que seja feita uma regulação dos medicamentos para facilitar o acesso. "Não queremos que o Governo compre medicamentos para estados e municípios. Queremos que ele regule o mercado e dê a oportunidade de nós termos acesso a esses kits".

O secretário Dr. Cabeto relembrou o início do combate à pandemia e a falta de diretrizes articuladas de orientação. Para ele, a coordenação e o reconhecimento de critérios técnicos adequados, pautados em metodologia científicas e compartilhados com transparência têm ajudado o Estado a enfrentar a crise.

Empresários pedem mais acesso a crédito na pandemia

A crise do novo coronavírus ainda gera muitas incerteza no cenário econômico brasileiro, e para auxiliar as empresas a enfrentar a crise, Governo Federal e Banco Central terão de facilitar o acesso às linhas de crédito de suporte já lançados. A perspectiva foi defendida pelos líderes de entidades de classe empresariais no Ceará durante o Seminário de Gestores Públicos: Prefeitos do Ceará 2020.
Fizeram parte do painel, concordando unanimemente com a perspectiva, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante; o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL), Freitas Cordeiro; e o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE), Maurício Filizola. Integraram a discussão o diretor superintendente do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará (Sebrae-CE), Joaquim Cartaxo Filho, e o superintendente estadual do Banco do Nordeste (BNB), Rodrigo Bourbon.

"O que está faltando hoje para que possamos voltar a rodar os negócios é crédito. O Governo Federal precisa fazer com que a economia seja retomada. Nós estamos em contato com os bancos públicos e privados e os recursos não tem chegado na conta das empresas", disse Ricardo Cavalcante.
Segundo o presidente da Fiec, o sistema financeiro brasileiro tem criado resistências para fornecer o crédito disponibilizado pelo Governo pelas incertezas geradas pela pandemia.

"O sistema financeira tem uma regra. Mas tivemos uma reunião com a Caixa para entendermos o que está acontecendo porque em um levantamento que fizemos, de 59 empresas que tentaram, apenas 6 conseguiram acessar o crédito", disse Ricardo.

Cordeiro afirmou que sem esse apoio financeiro, muitas empresas terão de fechar as portas, o que pode prejudicar o mercado nacional. "O banco não foi autorizado a distribuir dinheiro, eles estão emprestando e esperam o retorno. Mas o empresário já vinha no limite e não como está conseguindo acessar esse dinheiro e isso é ruim", disse Freitas.

Diário do Nordeste

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