O caminhar um pouco vagaroso não há mais. Nem o contar de histórias, às
vezes, até repetidas, mas fundamentais para que tantas gerações saibam o
que ocorreu naquela família, naquele lugar. Foi embora o som da voz
mais pausada cuja dona - em tempos convencionais - ainda guardava o
hábito de sentar na calçada. Partiu quem viu o bairro, as ruas, as
pessoas se transformarem ao longo de décadas. A Covid-19 os levou.
No Ceará, assim como em inúmeras partes do mundo, os idosos são a imensa
maioria das vítimas silenciadas pela doença. No Estado, até junho, a
proporção é que a cada 10 óbitos pela doença, 7 foram de pessoas com 60
anos ou mais. De março a junho, 6.180 pessoas perderam a vida no Estado
devido à Covid-19. Destes, 4.578 eram idosos. Para além dos lutos
individuais, a perda concentrada (e quase simultânea) de milhares de
pessoas mais velhas traz grandes efeitos sociais: fragiliza ainda mais o
contato das demais gerações com a velhice e enfraquece as memórias da
história social de cada território.
O POVO