Projeto produz material para ser
aplicado em pacientes com formas graves da doença, mas ainda tem baixa adesão
apesar do número expressivo de pessoas recuperadas no Estado. Apenas homens
podem realizar a doação
Apesar dos esforços de
pesquisadores do mundo todo, ainda não há vacina e nem tratamento específico
para a Covid-19. Só no Ceará, a doença já matou mais de seis mil pessoas em
pouco mais de três meses. No entanto, um método conduzido pelo Centro de
Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) vem buscando respostas para novas
infecções a partir do sangue de pessoas já contaminadas. Do dia 2 junho à
semana passada, o Centro já recebeu 59 doações do chamado plasma convalescente,
que já foi aplicado no tratamento de pacientes em hospitais de Fortaleza,
Sobral e Juazeiro .
O plasma é a parte líquida do
sangue. A principal hipótese dos cientistas é que pessoas curadas da doença
desenvolvem anticorpos no plasma que podem ser úteis à recuperação de outras,
sobretudo com formas de moderada a grave, minimizando o tempo de internação e o
risco de morte pela infecção. No entanto, segundo a médica Denise Brunetta,
diretora de hemoterapia do Hemoce, isso ainda não é unanimidade.
"São evidências ainda
pequenas porque é uma doença nova com a qual a gente ainda está aprendendo a
lidar. Temos trabalhos na literatura científica que mostram benefícios, mas há
outros que ficam na dúvida se esse benefício é real", afirma. Por isso, a
aplicação no Ceará é individualizada e depende da solicitação do médico diretamente
responsável pelo paciente.
A primeira etapa do processo é
uma triagem clínica do potencial doador, quando há a coleta de uma amostra de
sangue para avaliação da quantidade de anticorpos contra a Covid-19. Depois de
uma média de dois dias, os candidatos retornam para consulta. Caso não esteja
apto para doar o plasma, é convidado para doação de sangue convencional. Em
caso positivo, um único doador pode gerar até três bolsas de plasma
convalescente.
Denise Brunetta confessa que a
equipe esperava um número bem maior de doadores, principalmente pelos dados
expressivos de curados em Fortaleza. Até esta segunda-feira (29), a Capital já
tinha mais de 26 mil pacientes recuperados, de acordo com a plataforma
IntegraSUS. A ampliação do projeto também depende da compatibilidade entre
doador e receptor.
"Até o momento, as doações
estão conseguindo suprir as necessidades dos pacientes, mas, dependendo do
grupo ABO, temos dificuldade em manter um estoque seguro. Principalmente do
tipo A, do qual temos o maior número de solicitações, e do AB, pela quantidade
reduzida desse grupo na população".
Por segurança, apenas homens
podem doar o plasma convalescente. Isso porque existe uma reação transfusional
chamada lesão pulmonar aguda (Trali, na sigla em inglês), uma das principais
causas de mortes relacionadas a transfusões, que está relacionada a anticorpos
presentes em mulheres. "Essa doação é muito mais segura em doadores do sexo
masculino", reforça Brunetta.
Sorologia
Outros critérios para a doação
incluem ter entre 18 e 60 anos de idade, pesar acima de 50kg, ter diagnóstico
de Covid-19 confirmado previamente por PCR, sorologia ou teste rápido e estar
sem sintomas da doença há mais de 30 dias.
A diretora de hemoterapia reitera
que a doação de plasma segue uma doação de sangue convencional, sendo
"tranquila, segura, feita com equipamentos de uso individual esterilizado,
sem risco de contaminação".
Diário do Nordeste