Um estudo brasileiro coordenado pelos principais hospitais privados do
País aponta que a hidroxicloroquina, associada ou não ao antibiótico
azitromicina, não tem eficácia no tratamento de pacientes internados com
quadros leves e moderados de Covid-19.
A pesquisa, publicada nesta quinta-feira, na revista científica New
England Journal of Medicine, verificou ainda que, no grupo de pacientes
que fez uso dos medicamentos, foram mais frequentes alterações nos
exames de eletrocardiograma e de sangue que representam maior risco de
arritmia cardíaca e lesões no fígado.
Participaram do ensaio clínico 667 pacientes de 55 hospitais, sob a
coordenação de nove instituições: Hospitais Albert Einstein, HCor,
Sírio-Libanês, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa
de São Paulo, além do Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e
Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
Os participantes foram divididos, de forma randomizada (por sorteio), em
três grupos: um foi tratado com hidroxicloroquina, outro recebeu também
recebeu o medicamento, mas associado à azitromicina, e o terceiro foi
tratado somente com suporte clínico padrão, que inclui medicamentos para
sintomas, catéter com oxigênio, entre outros.
Os pacientes que tomaram hidroxicloroquina (isolada ou associada à azitromicina) também receberam esse mesmo suporte clínico.
Os voluntários receberam as medicações por sete dias e foram
acompanhados por duas semanas. Ao final do seguimento, os pesquisadores
concluíram que não houve diferenças significativas na evolução dos
pacientes dos diferentes grupos, o que, segundo o estudo, demonstra que a
hidroxicloroquina não traz benefício no tratamento dos casos leves e
moderados da doença.
"A avaliação foi feita de acordo com uma escala de sete possíveis
desfechos, na qual o 1 é a alta do paciente e o 7, o óbito. Não
observamos diferenças na evolução dos pacientes dos três grupos. Neste
perfil de paciente, portanto, a utilização da hidroxicloroquina não
promove uma melhora no estado clínico", explica a cardiologista Viviane
Cordeiro Veiga, coordenadora de UTI da BP - A Beneficência Portuguesa de
São Paulo e uma das pesquisadoras do estudo.
Para o cardiologista Renato Lopes, pesquisador e professor da Unifesp e
da Duke University (EUA), que também participou do estudo, os resultados
da pesquisa brasileira mostram que, mesmo nos casos mais leves de
covid-19, a hidroxicloroquina não traz benefício. "Outros estudos
internacionais já mostraram que ela não tinha eficácia para casos
graves, mas muitos críticos diziam que ela não havia funcionado porque
foi administrada muito tarde quando o paciente já estava grave.
Mostramos que, mesmo quando o início do tratamento é precoce e em casos
leves, não há eficácia", destaca.
Quanto aos eventos adversos, a pesquisa mostrou que os pacientes que
tomaram hidroxicloroquina, com ou sem azitromicina, apresentaram, com
mais frequência, uma alteração no eletrocardiograma chamada de aumento
do intervalo QT, associado a maior risco de arritmia. Esses pacientes
também apresentaram com mais frequência níveis elevados das enzimas TGO e
TGP, que podem representar lesões no fígado.
O estudo divulgado nesta quinta é um dos nove ensaios clínicos
conduzidos dentro da iniciativa batizada de Coalizão Covid-19 Brasil,
que tem a participação dos seis hospitais e duas instituições de
pesquisa.
O POVO