Usada antes da pandemia principalmente para tratar piolhos, a
ivermectina passou a ser receitada por médicos como preventivo ou para
fases iniciais da covid-19. Não há, no entanto, comprovação científica
do uso do vermífugo para combater o novo coronavírus. Um estudo clínico
brasileiro sobre o tema só deve ser concluído em 2021, e a distribuição
do medicamento por agentes públicos é considerada irregular por
especialistas.
Na onda de respostas milagrosas para crise de saúde, a droga ganhou
força ainda em abril, com a publicação de um estudo na Antiviral
Research que indicou que o fármaco foi capaz de inibir a replicação do
SARS-CoV-2 in vitro (em laboratório). Os pesquisadores alertaram, porém,
que, para ter efeito em humanos, a dose teria de ser 10 vezes maior.
Esse resultado quase inviabiliza o uso em humanos porque aumenta muito a dose, daí aumenta a chance de ter efeitos no sistema nervoso central e pode ter efeitos adversos desconhecidos porque ela [ivermectina] nunca foi usada nessa dose”, afirmou ao HuffPost a consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Raquel Stucchi.
Como a ivermectina ficou popular na pandemia?
Nos últimos meses, o uso da ivermectina passou a circular em mensagens
nas redes sociais e foi defendido pelo presidente Jair Bolsonaro. “Eu
acho que o resultado é até melhor que a cloroquina, porque mata os
vermes todos”, disse Bolsonaro em uma live de 11 de junho. O que há em
comum entre os dois medicamentos é a falta de comprovação científica
para combater o novo coronavírus.
Vídeos de médicos que circularam entre a população foram decisivos na
disseminação da ideia de uma solução fácil para a crise sanitária. Um
vídeo publicado pela médica Lucy Kerr, em defesa da ivermectina, teve
quase 400 mil visualizações em uma semana e foi excluído pelo YouTube. O
conteúdo foi classificado como “enganoso” pelo projeto Comprova.
A propaganda se refletiu no mercado farmacêutico. Dados mais recentes do
Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos) mostram
que em abril foram vendidas 2.044.811 caixas de ivermectina. No mês
anterior, foram 820.574.
Qual o risco de tomar ivermectina?
Além de não ser efetiva para evitar ou tratar a covid-19, o uso da
ivermectina pode trazer riscos à saúde. Tanto a dosagem quanto a
interação com outros medicamentos pode trazer malefícios ao paciente. Os
chamados “kits covid”, distribuídos por algumas prefeituras, incluem
ivermectina, além da azitromicina, dipirona e cloroquina.
O uso conhecido e seguro da ivermectina é para infestações de piolhos,
sarna e parasitas, tanto para seres humanos quanto para animais. Também é
conhecida sua atuação como vermífugo para filariose linfática
(elefantíase) e oncocercose, por exemplo.
O medicamento pode levar à toxicidade do sistema nervoso central. Embora
os efeitos colaterais não sejam muito frequentes quando são usadas as
doses indicadas na bula, podem ocorrer reações na pele, tais como
coceira, vermelhidão, erupções, dores de cabeça, náuseas, vômitos,
pressão baixa, quedas, inchaço no rosto, braços e pernas, taquicardia e
dores musculares. Crises asmáticas também podem ser agravadas.
Distribuição de ‘kit covid’ é irregular
A distribuição da ivermectina pelo poder público tem se multiplicado
pelas cidades brasileiras. No início do mês, o prefeito de Itajaí (SC),
Volnei Morastoni, anunciou a intenção de tratar preventivamente
aproximadamente 100 mil pessoas com a droga. O tratamento também será
acompanhado por profissionais da Universidade do Vale do Itajaí
(Univali), de acordo com a prefeitura.
Huff Post Brasil