Jovens denunciam assédio sexual e agressão em seita espiritual



Abusos sexuais, físicos e psicológicos em um lugar supostamente destinado a cura de feridas da alma. Tudo teria acontecido na Comunidade Afago, uma seita espiritual sem endereço fixo em Fortaleza. Com o psicológico frágil em virtude de múltiplas violências do passado, as vítimas buscavam amparo, mas afirmam que ficaram com cicatrizes ainda mais profundas pois contam que eram obrigadas a passar por rituais que envolviam a manipulação de órgãos sexuais, ejaculação e agressões em nome de uma falsa recuperação.

Os abusos e agressões teriam ocorrido entre 2018 e o ano passado. As práticas eram supostamente orquestradas por Pedro Ícaro de Medeiros, o Ikky. Acadêmico da graduação em Filosofia em uma universidade pública, ele se apresentava como o mestre espiritual da Afago, que já chegou a ter 200 participantes na faixa etária de 20 anos. O conteúdo da denúncia foi revelado na noite de ontem em reportagem do programa Fantástico, da TV Globo.

Além do tratamento, a comunidade do estudante atraía pelos projetos sociais e cursos terapêuticos baratos, embora estes não tivessem nenhuma certificação válida. À reportagem, o advogado do suspeito apresentou apenas o certificado de um curso de acupuntura, que não o autoriza a ministrar aulas.

O Ministério Público do Ceará (MPCE) requisitou à Polícia Civil a abertura de um inquérito para investigação do caso. Os depoimentos começaram a ser coletados na última quinta-feira (16), segundo a advogada Thayná Silveira. “Ele (Ícaro) pegou esses jovens que estavam querendo pertencer a alguma coisa, que estavam em busca de cura de traumas sexuais, de traumas familiares e as manipulou”, afirma.

Contudo, os seguidores romperam o código de silêncio imposto na comunidade já no início deste ano. Entre os relatos feitos à reportagem do Fantástico, denúncias de agressão e estupro.

As acusações também miram a prática de estelionato. Segundo a recepcionista Pamela Magalhães, a única a mostrar o rosto em entrevista ao Fantástico, “a cada semestre ele aumentava o valor desses cursos, tanto que quando eu entrei era R$50 e quando eu saí um determinado curso já era R$ 1.500”.

Não bastasse as violências praticadas, a comunidade Afago tinha ainda um ritual de batismo que deixava cicatrizes. “Você era batizado com água no chuveiro da casa dele e se você fosse teimoso ou desobediente, ou qualquer uma dessas características rebeldes, né, era queimado com uma pedra quente atrás da nuca, no pescoço”, contou um jovem.




Investigação

O promotor de Justiça Régio Lima Vasconcelos, da 144ª Promotoria do MPCE, afirmou que em análise preliminar foi percebido que os fatos relatados condizem com tipificações de diversos crimes. "Se confirmados, podem ensejar a prática, em tese, dos delitos de lesão corporal, estupro, charlatanismo e curandeirismo, previstos, respectivamente, nos artigos 129, 213, 283 e 284 do Código Penal Brasileiro, cuja eventual responsabilidade criminal não está associada à idade ou aquiescência de possíveis vítimas.


Desculpas

Os gestores da Comunidade Afago divulgaram nas redes sociais nota oficial afirmando estarem “chocados e abalados com toda a situação”. Conforme a gestão, a dimensão das acusações feitas resultou em confusão psicológica e emocional da liderança.

A Comunidade também pediu desculpas e afirmou não compactuar com qualquer tipo de abuso, violência e assédio, seja de teor psicológico, simbólico ou sexual.





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