O fim de semana em algumas áreas de Fortaleza pode não ter sido movimentado por turistas, mas a população fortalezense decidiu sair de casa e ocupar o calçadão da Beira Mar. Imagens do O POVO
registraram a maioria das pessoas sem máscaras de proteção e
aglomeradas, mesmo com obrigatoriedade de uso em espaços públicos e
privados definida pela Lei Estadual 17.234.
De acordo com enfermeira infectologista Lúcia Duarte, o
descumprimento das medidas sanitárias é preocupante e pode causar uma
segunda onda de infecções por coronavírus. Segundo ela, isso levaria a
um colapso no sistema de saúde, mesmo tendo suportado, com dificuldade, a
primeira onda.
“Tem um agravante, que é o [avanço do coronavírus no] Interior”,
comenta a especialista. Ela explica que quando as unidades de saúde do
interior e da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) não suportam a
quantidade de casos, os pacientes são enviados para a Capital.
No entanto, se Fortaleza viver mais uma vez o cenário de alto índice
de contaminados e, por consequência, maior taxa de ocupação em
enfermarias e Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), não será possível
atender a todos. “Vai ter um colapso. Muitas pessoas precisando de
serviço de saúde e muita morte”, preocupa-se. Justamente por isso, a
ideia de imunidade de rebanho também é inviável no Ceará e no Brasil, reforça Lúcia.
“As pessoas precisam entender que a pandemia não terminou. Se a gente
sai sem a máscara, por exemplo, a gente corre o risco de se contaminar,
e uma vez contaminada, corre o risco de adoecer. Logo agora que estamos
começando a relaxar, não querendo reviver o que a gente já teve que
viver [durante a pandemia]”, lamenta.
Medidas e riscos
Ao sair de casa, seja para ambientes públicos ou privados, o uso de
máscaras é obrigatório. O vírus Sars-Cov-2 é transmitido pelo ar,
principalmente por aerossóis: gotículas tão finas que ficam suspensas no
ar. O uso da máscara reduz o espalhamento dessas partículas pela
respiração, além de impedir que outras pessoas sejam contaminadas ao
inspirá-las.
Quando as máscaras não são utilizadas ou quando colocadas de maneira
inadequada (não cobrindo o nariz ou apenas abaixo do queixo), a
probabilidade de infectar uma pessoa é muito maior. Além
do mais, algumas pessoas podem ser superpropagadoras da doença -
aquelas que contaminam mais do que o normal, seja por tendência
biológica, seja por alguns hábitos.
Ao O POVO, o infectologista Keny Colares explicou
que pessoas falando alto, cantando ou respirando intensamente - como
quando se está cansado de uma atividade física - tendem a espalhar mais o
vírus. É por isso, por exemplo, que os decretos do Plano de Retomada
Econômica autorizam sair para exercícios físicos individuais e sempre
com máscara.
Ambientes fechados ou abertos, a máscara é obrigatória
Outro fator que aumenta o risco da propagação é ficar em espaços
fechados, sem ventilação natural. Para Lúcia, os shoppings devem ser
evitados, assim como as academias. Ela explica: as academias são locais
fechados, com ar condicionado e equipamentos sendo constantemente
compartilhados.
Da mesma forma, a aglomeração em praias também coloca a população em
risco. Mesmo estando em ambiente aberto, muitas pessoas estão indo à
praia sem máscaras e descumprindo o distanciamento mínimo,
compartilhando espaço demasiado próximo com desconhecidos.
Lúcia, que também é coordenadora do GT de Enfrentamento à pandemia de
Coronavírus na Universidade Estadual do Ceará (Uece), lembra que
Fortaleza só pode continuar com a abertura econômica se cumprir as
medidas sanitárias. “Se a gente não estivesse cumprindo, o caos estaria
instalado. Não é momento de parar”, frisa.
“Vamos ficar com essas medidas até sair a vacina. Ela é o que vai dar
a verdadeira proteção. Nós não podemos fazer sair de casa totalmente
com segurança sem ter a vacina”, reforça.
Durante a entrevista, a especialista ainda lembrou sobre o sofrimento
dos profissionais de saúde e das pessoas que perderam familiares pela
Covid-19. “É uma doença muito grave pra gente estar se expondo desse
jeito. Causa muito sofrimento. As pessoas sabem disso, porque todo dia
sai na TV e nos jornais”, lamenta.
O
Ceará registra 147.566 casos de Covid-19 e 7.185 mortes pela doença,
segundo boletim atualizado às 9h6min desta segunda-feira, 20, na
plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Foram
188 novos casos confirmados e seis mortes a mais que o registrado às
16h57min do domingo. São 122.716 pacientes recuperados do novo
coronavírus no Estado.
(O Povo)