A vacina da Universidade de Oxford para a Covid-19 preveniu, em macacos, a pneumonia causada pela doença, mostra uma pesquisa que teve publicação antecipada on-line nesta quinta-feira (30) na revista cientifica "Nature", uma das mais importantes do mundo.
Os resultados preliminares dos testes já haviam sido divulgados há cerca de dois meses e meio,
mas a publicação na revista significa que eles foram validados por
outros cientistas (passaram pela chamada "revisão por pares", ou "peer
review", em inglês). Esse passo é necessário para que qualquer estudo
científico seja publicado em uma revista.
"Não foram observadas evidências de pneumonia viral nem doença inflamatória imune" nos macacos vacinados, disseram os cientistas.
A imunização com a vacina, tanto em dose única como aplicada com reforço, induziu a produção de anticorpos e resposta imune celular em macacos resos. Não foram observados efeitos colaterais.
Segundo os cientistas, além de ficarem protegidos da pneumonia causada pelo novo coronavírus, os macacos vacinados também tiveram menor carga viral (quantidade de vírus) em amostra retirada dos pulmões e do trato respiratório inferior.
Seis animais foram vacinados com uma dose da vacina, 28 dias antes de serem expostos ao Sars-Cov-2 (o novo coronavírus). Outros seis foram vacinados 56 dias, e, depois, 28 dias antes da exposição ao vírus.
Os anticorpos contra uma parte específica do vírus começaram a aparecer
já 14 dias depois de apenas uma dose, e foram "significativamente
aumentados com a segunda imunização", disseram os pesquisadores.
Para os macacos que receberam as duas doses da vacina, o vírus
infeccioso (capaz de provocar a infecção pela Covid-19) só foi detectado
até um dia depois de o animal ter contato com o vírus. Nos macacos que
receberam apenas uma dose, o vírus foi encontrado até 3 dias depois da
exposição.
Os cientistas alertaram, entretanto, que a vacina foi capaz de evitar a doença causada pelo novo coronavírus, e não de impedir a transmissão ou a infecção por ele.
"Nosso principal objetivo para uma vacina contra a Sars-CoV-2 é
prevenir a doença, e não observamos pneumonia ou antígeno viral nos
pulmões de animais vacinados", disseram.
"Com base nos dados aqui apresentados, é possível que uma dose única ou dupla da vacina não impeça a infecção nem a transmissão do vírus. No entanto, isso poderia reduzir significativamente a doença [causada por ele]", explicaram os cientistas.
A microbiologista Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de
Ciência, explica que o ideal seria que a vacina impedisse ambos: a
doença causada pelo vírus e a transmissão.
"Não é só a de Oxford, todas as vacinas estão com esse problema",
afirma Pasternak. "O ideal seria impedir a transmissão também, mas se
ela impedir a doenca já é uma vantagem", afirma.
(G1)