Maior furto a banco no Brasil há 15 anos entrava para a história



Não existe crime perfeito, e a história do furto ao Banco Central de Fortaleza está para provar. Voltando no tempo de hoje para 15 anos atrás, estaríamos na última semana em que um grupo de assaltantes a banco e estelionatários cava um túnel por debaixo da Avenida Dom Manuel, partindo de uma casa em direção ao Banco Central. Faltava pouco para, entre os dias 6 e 7 de agosto, subtraírem R$ 164 milhões. Mas era apenas o fim do começo, pois também se iniciava uma das maiores investigações policiais, para a qual foi necessário até cortar na carne da própria Polícia.

A "Operação Toupeira" trouxe à sociedade nomes de pessoas consideradas líderes do grande grupo formado, entre eles Antônio Jussivan Alves dos Santos, o "Alemão"; Luís Fernando Ribeiro, o Fernandinho, e Davi Salviano da Silva, o 'Véi Davi'. Fernando, que conseguiu o dinheiro para dar início ao plano criminoso, foi morto dois meses após o furto depois de ser sequestrado - apenas um dentre os vários casos envolvendo os "beneficiários" do furto milionário.

A casa de nº 1071, na rua 25 de Março, funcionava como uma aparente empresa de grama sintética. Era apenas um artifício para que quilos e mais quilos de terra pudessem ser retirados em sacos sem chamar atenção, tudo se tentando de maneira silenciosa com 900 escoras de madeira com argamassa e tubos de cimento.

Escavadores

Feito tatus, atravessaram a avenida Dom Manuel e perfuraram uma laje de concreto de 1,1 metros de espessura. Um buraco de 75 centímetros de diâmetro foi a porta de entrada no Caixa-Forte. Lá dentro, tudo como planejado: retirar apenas notas de R$ 50 reais que já haviam circulado no mercado, praticamente impossibilitando rastreamento de lote.
 
Parte da quadrilha entrou no dia 5, mas a operação de retirada se daria nos dois dias seguinte com o auxílio de roldanas, ganchos e tambores. Foram retiradas cerca de 3,5 toneladas em cédulas de dinheiro, uma ação que só parou pelo cansaço do grupo. Tanto dinheiro que, derramado pelo caminho, criou rastros.

Quando funcionários do Banco Central chegaram ao cofre às 9h de 8 de agosto, uma segunda-feira, estava anunciado o furto, maior do que qualquer outro realizado em instituição bancária no País.

Roubado e enterrado

Dois dias antes, quando a casa na 25 de março era trancada definitivamente, o dinheiro seguia para, pelo menos, três diferentes rumos, sendo um deles uma casa no bairro Mondubim, periferia de Fortaleza. Pelo menos R$ 56 milhões teriam sido enterrados lá e eram distribuídos aos participantes de um dos três grupos que se juntaram para a empreitada criminosa. No entanto, após investigações da PF, apenas R$ 12,5 milhões puderam ser dali recuperados.

De acordo com Antônio Celso, delegado da Polícia Federal responsável pelo caso, alguns policiais civis e militares no Ceará e em São Paulo faziam sua própria caçada aos suspeitos, mas no intuito de fazer extorsões, algumas delas consumadas. Em praticamente todas houve interceptação telefônica mostrando a corrupção da "banda podre" da Polícia.

Assim, enquanto eram caçados pela Polícia Federal, outros bandidos (incluindo policiais corruptos) extorquiam os milionários escavadores, depois conhecidos como "toupeiras". Dois meses após o furto, Fernando Pereira, o Fê, apontado como um dos líderes, é sequestrado em São Paulo. Dois dias depois, a família paga R$ 2 milhões de resgate. "Fê" é encontrado morto em Camanducaia (MG) - crime cometido por policiais civis. O irmão de 'Alemão' também foi sequestrado. Houve novos sequestros pelo menos nos três primeiros anos após o grande furto. Situações como de Fernando, o Fernandinho ou "Fê" e Deusimar Neves, as extorsões findaram em morte - no caso de Neves, o caso foi tratado como suicídio.

Cinco anos atrás, em reportagem dos 10 anos do furto, o Diário do Nordeste entrevistou no presídio um dos "toupeiras", os homens responsáveis pela escavação do túnel. O condenado, que na época pediu para não ser identificado, chegou a dizer que algumas pessoas que participaram do assalto e nunca teriam sido pegas ou, pelo menos, rastreadas, estariam circulando "de boa" em Fortaleza, como se, para essas, o crime teria compensado. Ele também explicou o quanto foi importante a participação de funcionário do próprio Banco Central para o sucesso da empreitada. "Pra ser sincero, só uma coisa pra vocês: ninguém tem bola de cristal. Tem funcionário lá dentro que passou informação. Alarme desliga sozinho? Não. Pra ter uma precisão pra sair certo, tinha que ter informação lógica, GPS. Uma ajuda que veio de fora".

Praticamente todos esses foram identificados pela Polícia Federal. O chefe da investigação, delegado Antônio Celso, aponta que além da corrupção de funcionários públicos, entre eles policiais, certas precariedades do serviço público teriam contribuído para o êxito na retirada do dinheiro, entre elas o fato de as câmeras de segurança do cofre não gravarem as imagens para consulta posterior. E as próprias imagens em tempo real eram de baixíssima resolução. E o próprio funcionário, este terceirizado, que passou imagens da disposição do dinheiro no cofre era alguém que, num banco com medidas corretas de segurança, nem ao menos teria autorização para entrar.

Em cinco anos, a operação da PF indiciou 134 pessoas, das quais mais de 90 sofreram condenações na 11ª Vara de Justiça Federal, em Fortaleza. Algumas condenações foram revistas e as penas reduzidas por instâncias superiores.


 
 
(Diário do Nordeste)

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