Um projeto de lei que já foi aprovado pelo Senado e tramita com
urgência na Câmara dos Deputados pretende diminuir o número de feriados
com quatro dias.
O PL 3797, de autoria do senador Dário Berger (MDB-SC), quer
antecipar para a segunda-feira as datas comemorativas nacionais que
caiam em outros dias úteis. Isso já aconteceu nos anos 1980, quando o
então presidente José Sarney assinou uma lei que transferia as folgas
para segunda. A medida foi revogada em 1990.
O projeto de Berger é de 2016, mas, desde o começo da pandemia,
surgiram várias outras propostas para mudar feriados. Em junho, o PL
passou a tramitar com urgência.
A ideia por trás das iniciativas é aumentar o número de dias úteis e,
assim, ampliar a produtividade, o que pode ajudar a contornar a crise.
Segundo Beto Pereira (PSDB-MS), que deve ser o relator do projeto na
Câmara, cada dia útil corresponde a 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto)
anual do país. "Dois dias a mais de trabalho resultariam em quase 1% a
mais de produtividade", diz.
O projeto que aguarda votação na Câmara deixa de fora vários
feriados, cujas datas não seriam alteradas. Além de Natal e Ano-Novo,
não haveria mudança para Carnaval, Sexta-Feira Santa, Dia do
Trabalhador, Corpus Christi, Independência do Brasil e Nossa Senhora
Aparecida.
As exceções são mais generosas do que na antiga lei do governo
Sarney, que no início excluía apenas Natal, Ano-Novo e Sexta-Feira
Santa.
Proposta
Na opinião de Pereira, a medida deveria incluir mais datas festivas.
Ele afirma que quer deixar de fora, em seu relatório, apenas Natal,
Ano-Novo e Carnaval. O deputado também pretende incluir feriados
municipais e estaduais, que atualmente não fazem parte do projeto.
Caso seja aprovada, a lei deve afetar o setor do turismo, que tem nos feriadões seu momento de maior ocupação.
Para a agente de viagens e supervisora do curso de Turismo do Centro
Europeu, Raquel Pazini, haverá resistência por parte das empresas do
segmento, porque folgas de quatro dias são importantes para movimentar o
mercado.
Porém, o projeto também traria um benefício: o fim dos recessos na
quarta-feira. "Você perde nas folgas mais longas, mas ganha em todos
esses feriados de três dias", diz.
Trícia Neves, sócia-diretora da consultoria Mapie, também vê os dois
lados da questão. "Ficamos incomodados quando o governo de São Paulo
puxou feriados para o meio da quarentena. Mas, se for bom para a
economia, também pode melhorar a capacidade financeira do cliente, o que
pode ajudar o setor."
Turismo
Outro efeito da medida é mudar o tipo de viagem procurada pelos
turistas. Com menos tempo livre, passeios para regiões próximas serão
mais comuns –o que combina com o comportamento esperado para o turista
neste momento de início de retomada.
O segmento de turismo de negócios é favorável ao projeto, porque a medida aumentaria o número de dias úteis em sequência.
"Se o feriado cai na terça, quarta ou quinta, quebra toda a
programação, e muitas vezes o profissional acaba não viajando", diz
Gervasio Tanabe, presidente-executivo da Abracorp (associação de
agências de viagens corporativas).
O deputado Beto Pereira planeja apresentar seu relatório em 20 dias. A
lei tem, então, que ser aprovada pelo presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ). Caso isso aconteça, deve voltar ao Senado e seguir para
sanção presidencial.
O texto do projeto prevê que ele comece a valer 90 dias após sua
publicação, o que Pazini considera pouco tempo para adaptação. Ela
explica que as viagens são pensadas pelas agências com pelo menos seis
meses de antecedência. Se uma data for alterada, todas as viagens
vendidas para ela precisariam ser alteradas também. "Não é brincadeira
mudar feriados."
Diário do Nordeste