Alta no preço dos alimentos impacta mesa dos mais pobres



Aliado à queda do valor do auxílio emergencial, o aumento dos preços dos alimentos pode fazer com que Brasil volte ao Mapa da Fome. Provocada pela alta do dólar e da demanda, a inflação dos alimentos deve continuar pelos próximos meses.

Para quem gasta tudo ou quase tudo que ganha com comida, não há escapatória diante da inflação dos alimentos: é preciso substituir comida nutricionalmente boa por ultraprocessados. Se o auxílio emergencial ajudou a evitar que muita gente caísse na pobreza e até mesmo tirou muitos da situação de vulnerabilidade, a perspectiva da redução do valor do benefício associada à alta dos preços dos alimentos formam uma equação perigosa.

O benefício de R$ 600, que chegou a R$ 1,2 mil para mães solteiras, começou a ser pago em abril para um período inicial de três meses. Em junho, foi alongado por mais dois meses, e no início de setembro, o governo prorrogou a transferência por mais quatro meses, reduzindo a parcela mensal a R$ 300.

A última parcela será paga em dezembro. A inflação dos alimentos no Brasil, na esteira de demanda maior e da forte desvalorização do real frente ao dólar, deve continuar pelos próximos meses, segundo economistas, e tende a agravar o quadro de insegurança alimentar no país.

"Mesmo com o auxílio emergencial, estamos prevendo que o Brasil esteja voltando para o Mapa da Fome", afirma a antropóloga Maria Emilia Pacheco, expresidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e membro do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN).

Em 2014, o Brasil deixou o Mapa da Fome da ONU — que inclui países em que mais de 5% da população se encontra em pobreza extrema, ganhando menos que US$ 1,90 por dia —, e caminhava a passos largos para voltar a ele, quando foi "salvo" pelo auxílio emergencial. Com certeza, acabando o auxílio emergencial, tem risco de voltarmos. A redução [do valor do auxílio] já vai ser um baque.

Quanto menos se ganha, mais da renda é comprometida com comida. Conforme dados do Datafolha de agosto, a compra de alimentos é o principal destino do auxílio emergencial para 53% dos entrevistados. Entre os que têm renda menor, essa parcela sobe para 61%.

Em Fortaleza
O arroz é o maior vilão do aumento do valor cesta básica. O preço do produto saltou de R$ 3,79, no mês passado, para R$ 5,79, nos supermercados de Fortaleza, um aumento de 52% em menos de 30 dias. O dado foi divulgado pelo Procon. Quando analisado o preço do quilo no início do ano, o produto apresenta uma alta de 96,9%, saindo de R$ 2,94, em janeiro, para R$ 5,79, em setembro.

Os preços de outros produtos também chamam atenção. O quilo do feijão carioca subiu de R$ 5,89 para R$ 7,99, entre agosto e setembro, ou seja, alta de 35%.

Porque os preços subiram?
Segundo o IBGE, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto foi de 0,24%, a maior alta para o mês em quatro anos, influenciada principalmente por alimentação e bebidas, que tiveram incremento de 0,78% no período e pelos transportes (0,82%). No acumulado do ano, os alimentos que mais encareceram foram cebola (50,40%), leite longa vida (22,99%), arroz (19,25%) e óleo de soja (18,63%) - este último, ficou 9% mais caro só no mês passado.

Na última semana, o Dieese divulgou que o preço da cesta básica aumentou em 13 de 17 capitais pesquisadas em agosto. Nos últimos 12 meses, todas as capitais nas quais é feita a pesquisa, com exceção de Brasília, tiveram aumento de dois dígitos no preço da cesta.
 
 
 
(CNews)

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