Licenças de trabalho por doenças mentais aumentam 16% no Ceará


O adoecimento mental, há alguns anos, está entre as principais causas de afastamento do trabalho. O cenário laboral, diante de inúmeros fatores, como risco de desemprego, insegurança e cobrança excessiva por produtividade, é propício à acentuação de problemas desta natureza. Ainda assim, muitas vezes, há mais dificuldade para comprovar que um transtorno mental foi causado pelo trabalho do que um problema físico.


Na pandemia, somados os efeitos sanitários e econômicos, essa pressão aumenta. No Ceará, entre janeiro e agosto de 2020, foram concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) 4.564 auxílios por doenças psiquiátricas. São 634 licenças a mais que 2019. Um acréscimo de 16% em uma conta já alta e que leva em consideração somente quem contribui para a Previdência.


Nesses oito meses, o INSS concedeu cerca de 18 auxílios-doença por dia para pessoas que não tinham condições de continuar trabalhando devido a algum transtorno mental. Dentre os principais problemas, estão transtorno mental compulsivo e múltiplo com drogas, episódios depressivos, transtorno misto ansioso e depressivo, além de ansiedade generalizada. No Estado, as licenças por problemas mentais representam 11,34% do total de auxílios concedidos para afastamento do trabalho.


Esse aumento de licenças psiquiátricas vai na contramão do observado na concessão de benefícios do INSS para afastamento do trabalho por diversas causas (físicas e mentais). Enquanto as licenças mentais cresceram 16% no período mencionado, o total de auxílios tem registrado queda. Em 2019, no período mencionado, foram concedidos 47.357 auxílios-doença. Em 2020 foram 40.225. Uma redução de 15%.


Neste mesmo período, 70 pessoas se aposentaram no Ceará por estarem incapacitadas para exercício do trabalho devido, sobretudo, a doenças como esquizofrenia, esquizofrenia paranoide, psicose não-orgânica e episódio depressivo grave com sintomas psicóticos. Desde 2016, 1.281 pessoas se aposentaram no Estado devido a problemas mentais. Os dados do INSS também apontam que os principais grupos de ocupação que receberam auxílios-doença e aposentadoria por invalidez foram comerciário e rural.


Linha tênue


A psicóloga e integrante do Núcleo de Psicologia do Trabalho da Universidade Federal do Ceará (UFC), Eveline Nogueira, explica que há uma linha tênue entre sofrimento mental e adoecimento mental, o que pode ser incapacitante para o profissional e se demonstrar a partir de diversos sintomas. Eveline afirma que o sofrimento é inerente à existência humana, mas quando isto interfere de forma significativa nas atividades diárias é preciso ligar um alerta e buscar ajuda profissional.


A especialista cita fatores que podem contribuir para o desenvolvimento desses tipos de acometimento, como cobrança de metas excessivas ou inatingíveis, situações de assédio moral, incentivo excessivo à competitividade entre trabalhadores, cumprimento de jornadas extenuantes, ausência de sentido nas atividades laborais e ameaças constantes de demissão.


"Dentre os sintomas que se deve atentar, estão mudanças de humor, tristeza, transtornos neuróticos, alterações do sono e o uso de substâncias psicoativas, como o álcool e drogas. Portanto, quando o quadro de sintomas desse sofrimento passa a se prolongar por um período de tempo longo e passa a interferir nas atividades cotidianas de trabalho, é necessária uma intervenção imediata e urgente. Lembrando que o ideal seria que essa intervenção ocorresse de forma preventiva, ainda nos primeiros sinais de adoecimento", destacou a psicóloga.


O POVO

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