Pela primeira vez após a demissão do ator e diretor Marcius Melhem da Rede Globo, em agosto, após acusações de assédio sexual, as supostas vítimas do ator se manifestaram. Por meio da advogada Mayra Cotta, as funcionárias revelaram que Melhem agia de forma ‘violenta’, usava seu poder hierárquico para constrange-las e, por vezes, chegou a trancar mulheres em salas para assediá-las.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Mayra afirmou que as vítimas
denunciaram o ator ao setor de compliance da emissora, que instaurou um
procedimento interno para apurar os casos.
Entretanto,
elas não ficaram satisfeitas com o desfecho do processo e resolveram se
organizar para expor “tudo o que elas passaram e toda a gravidade do
comportamento que o Marcius Melhem teve enquanto ele foi chefe” e “para
que ele não fosse simplesmente varrido para debaixo do tapete”, diz a
advogada.
Ela revela que, segundo suas
clientes, Melhem agia de forma agressiva reiteradamente. “Houve um
comportamento recorrente, de trancar mulheres em espaços e as tentar
agarrar, contra a vontade delas. De insistir e ficar mandando mensagem
inclusive de teor sexual para mulheres que ele decidia se iam ser
escaladas ou não para trabalhar, se ia ter cena ou não para elas [nos
programas de humor]. De prejudicar as carreiras de mulheres que o
rejeitaram. De ficar obcecado, perseguindo mesmo. Foi um constrangimento
sistemático e insistente, muito recorrente”.
Mayra
Cotta disse que o diretor se aproveitava de situações de trabalho para
as tentar agarrar e beijar as vítimas à força, prensando-as contra a
parede.
Segundo ela, Melhem rompeu totalmente o
limite entre o flerte e o assédio, já que insistia em sua conduta mesmo
depois de ouvir “mulheres falando não, não quero, me solta, não vou
beijar, não vou ficar com você. E ele tentando, agarrando”.
A
advogada representa seis vítimas de assédio sexual, outras de assédio
moral e seis testemunhas, além de um grupo de apoio formado por,
aproximadamente 30 pessoas. As vítimas e testemunhas preferiram manter
suas identidades em sigilo.
Marcius Melhem se defende
Após
a publicação da matéria, Marcius Melhem usou o Twitter para se
defender. Em uma longa série de posts na rede social, o ator disse que
está disposto a reconhecer e, se possível, reparar seus erros.
“Sobre
a matéria da Folha: Como escrever uma nota pra comentar acusações dessa
gravidade? Culpados e inocentes dizem a mesma coisa. ‘Sou inocente. Vou
provar na justiça’. Por isso qualquer coisa que eu diga pode soar falsa
de cara. Mas preciso falar e com o tempo mostrar minha sinceridade no
que vou dizer aqui. Estou disposto a reconhecer meus erros, pedir
desculpas e, se possível, reparar pessoas q eu tenha de qualquer forma
magoado. Quero enfrentar isso com verdade e humanidade e me expor se for
preciso. Fazer jus a todos esses anos em que pautas como as do
feminismo foram abraçadas pelo humor transformador em que eu acredito.
Fiz parte de um grupo de homens e mulheres que se orgulha de usar o
humor como um instrumento contra o preconceito. Mas mesmo abraçando
profissionalmente a causa feminista, ainda combato o machismo dentro de
mim, erro, posso ter relações q magoem. Tento melhorar e aprender. E
queria muito falar sobre isso. Mas diante de acusações tão graves que de
forma alguma cometi, o que eu posso fazer? Negar.”
Pela
rede social, Melhem pediu que a verdade seja apurada e que saiu da
Globo pela porta da frente após rigorosa investigação da emissora.
“Eu
coloco à disposição toda minha comunicação que tenho arquivada, com
qualquer pessoa que tenha trabalhado ou se relacionado comigo nesses
anos. E peço que ouçam as pessoas que trabalharam comigo que
acompanharam muitas situações de perto e que podem falar bastante sobre
isso tudo. Peço por favor que apurem a verdade e não apoiem mentiras. Há
alguns meses, tive que sair do país para um importante tratamento
médico de minha filha e não acreditei quando essa viagem passou a ser
divulgada como uma fuga. Qualquer pessoa que me conheça, que tenha
convivido minimamente comigo sabe que é impossível eu praticar alguma
violência, especialmente contra as mulheres. Jamais seria capaz de
emparedar alguém à força. Até hoje eu fiquei calado porque as acusações
não apareceram aqui fora. No compliance da rede Globo tudo foi apurado e
investigado rigorosamente. Saí pela porta da frente da emissora que
trabalhei por 17 anos. Sei que num caso desses, ainda mais no momento
que vivemos, de tanto ódio, serei culpado até provar o contrário. Então
quero que tudo seja colocado às claras, expor a minha inocência e os
meus erros. Quero poder pedir desculpas e cobrar responsabilidades. Vou
em busca da verdade.”
Também neste sábado, Marcelo Adnet, parceiro de Melhem em humorísticos da Rede Globo, manifestou solidariedade às vítimas.
“Sobre
a matéria de Mônica Bergamo na Folha de São Paulo: todo meu apoio e
solidariedade às vítimas”, disse o comediante pelo Twitter.
(Diário de Pernambuco)