Grávida de gêmeos relata 'trauma' após abordagem policial com três baleados em Hidrolândia

 


"Se tivesse acontecido de eu realmente ter sido baleada, eu não sei o que teria acontecido nem comigo e nem com os meus bebês." Foi assim que Amanda Carneiro, uma das passageiras do veículo atingido por vários tiros em uma abordagem da Polícia Militar na noite de sexta (9) na cidade de Hidrolândia, no interior do Ceará, falou sobre a ação. Ela está grávida de três meses, à espera de gêmeos.

A PM afirma que apura as circunstâncias da perseguição policial que terminou em lesão de uma criança de 10 anos e dois jovens. Conforme a corporação, os policiais foram chamados para atender uma ocorrência de disparos de armas de fogo feitas por um grupo que estava em um carro escuro.

Em entrevista à TV Verdes Mares na manhã desta segunda-feira (12), emocionada, Amanda relatou como se deu a ação. Ela afirma que estava no carro com o namorado, Pedro Henrique; com o irmão, um menino de 10 anos; e com um casal de amigos. Eles pararam o veículo e brincaram de soltar bombas de São João em um campo.

"Meu namorado estava devagar no veículo. A princípio, houve um primeiro disparo. Ali eu ainda não sabia que era bala, mas logo em seguida, vieram diversos outros disparos. Quando eu olhei para trás, o Diogo já estava falando: 'é tiro, me atingiu'. Quando eu olhei, meu irmão já estava no veículo saindo muito sangue do pescocinho dele. Eu pensei que ia perder ele ali mesmo. Tanto ele como meus amigos", relatou a jovem.

Amanda Carneiro também relata que, quando olhou para o lado, percebeu que o namorado também havia sido baleado. Ele sofreu um tiro na cabeça. "Quando eu olhei para o lado, meu namorado tinha sido atingido na cabeça e ele falou: 'me atingiram na cabeça'. O Diogo também foi atingido e ele estava reclamando muito de dor. Naquele momento a gente só pensou em ir para o hospital. E foi o que a gente fez. A gente foi para o hospital, meu namorado ainda estava conduzindo o veículo nesse momento", conta.

A jovem conta ainda que, chegando a uma avenida movimentada, pediu socorro a dois motociclistas que estavam na via, e que logo em seguida a polícia parou atrás do veículo deles. Amanda afirma ter discutido com os policiais, afirmando que eles não eram bandidos.

"Os policiais pararam de atirar mas continuaram a perseguição. A gente parou em um sinal e o Pedro Henrique desceu do veículo e perguntou qual era a necessidade daquilo tudo, porque não tinha necessidade nenhuma e a abordagem foi feita de uma forma super errada [...] eles só prestaram socorro depois que o Diogo falou que era filho de um PM da cidade."

Amanda relatou também que por pouco não foi baleada, e que o disparo não a atingiu porque o tiro ficou preso nas ferragens do veículo.

 "Escapei de ser atingida. Tinha uma bala que poderia ter sido para mim, mas ficou enganchado nas ferragens do veículo. Se tivesse acontecido de eu realmente ter sido baleada, eu não sei o que teria acontecido nem comigo e nem com os meus bebês. Eu estou grávida, estou gestante de três meses e isso tudo foi um choque muito grande tanto para mim como para eles. É um trauma que vai ficar para o resto da vida tanto fisicamente como psicologicamente para todos nós. Isso é muito revoltante."

Em um vídeo gravado no hospital onde as vítimas recebiam atendimento, ela afirmou que os policiais "estavam atirando sem motivo nenhum".

Ação da PM

Após buscas na região, um veículo com as mesmas características repassadas na denúncia foi localizado trafegando com os faróis desligados no Bairro Nova Hidrolândia.

Segundo a polícia, os agentes deram ordem de parada, mas o condutor não obedeceu, então teve início uma perseguição e três ocupantes do carro foram atingidos por arma de fogo. A criança e os dois homens foram socorridos para um hospital da cidade.

Bala no pescoço e perda da visão

Um dos baleados, um jovem de 22 anos, foi atingido por tiros na coluna e no joelho. A outra vítima foi baleada da cabeça e na coxa. Conforme a família, o homem perdeu a visão de um dos olhos, por conta dos disparos.

Já a criança, levou um tiro no pescoço e, até a noite deste sábado (10), estava com a bala ainda alojada na região. O garoto foi transferido para o hospital Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro de Fortaleza.

No fim da tarde deste domingo (11), a Santa Casa de Sobral emitiu uma nota atualizando a situação de saúde dos dois jovens. A vítima de 22 anos passou por procedimento para retirada do projétil região vertebral; já Pedro Henrique, de 21 anos, passou por procedimento de enucleação da órbita direita e está sendo acompanhado por neurocirurgiões.

O estado de saúde de ambos é estável, mas inspira cuidados, conforme a unidade hospitalar. Já em relação à criança de 10 anos, o IJF revelou que só pode passar informações sobre estado de saúde com autorização da família.

PMs afastados

Os PMs envolvidos no caso se apresentaram na Delegacia Regional de Canindé, onde a ocorrência foi registrada pela Polícia Civil. Em seguida, os policiais foram ouvidos pelo comando do Batalhão ao qual são subordinados e tiveram as armas recolhidas para envio a Perícia Forense do Ceará (Pefoce). Os agentes foram afastados das funções até a conclusão do caso.

O governador do Ceará, Camilo Santana, se pronunciou na manhã deste domingo por meio das redes sociais.

"Sobre esse lamentável episódio ocorrido em Hidrolândia, com três pessoas baleadas numa ação policial, inclusive uma criança, informo que, de imediato, determinei ao secretário da Segurança e ao comandante da PM rigor absoluto na investigação, bem como à secretária de Proteção Social apoio às vítimas. Foi instaurado inquérito e os policiais afastados imediatamente das ruas. Lamento profundamente o ocorrido", disse. 

 

(G1/CE)

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