Pandemia reduz mais de 500 mil procedimentos médicos em ambulatórios do SUS no Ceará

 


Com o sistema de saúde voltado para atender aos casos de Covid-19, o Ceará teve em 2020 uma queda de mais de 500 mil procedimentos ambulatoriais eletivos, ou seja, que não são de emergência, como exames e consultas. O dado é de um levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgado nesta segunda-feira (13). O estudo leva em conta o volume de atendimentos registrados no Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SIA/SUS), realizados entre março (primeiro mês da pandemia no Brasil) e dezembro de 2020, com o mesmo período de 2019.

No período analisado, o número caiu de 2.406.761 para 1.902.487 no Estado, revelando uma diminuição de 504.274 procedimentos. Em termos percentuais, a redução foi de 21%. Apesar do número expressivo, o Ceará teve a menor queda da região Nordeste e a sexta menor do Brasil – cujo sistema foi impactado, ao todo, com quase 27 milhões de procedimentos a menos. Das 27 Unidades Federativas, apenas Amapá e Distrito Federal registraram aumento no intervalo analisado.

Suspensão dos atendimentos

Em 19 meses de pandemia, até agora, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) recomendou a suspensão de cirurgias e procedimentos ambulatoriais de baixo risco em dois momentos: março de 2020, mês inicial dos registros de Covid-19, e fevereiro de 2021, que marcou a piora da segunda onda. Nas duas ocasiões, a recomendação foi direcionada a hospitais, clínicas, ambulatórios, laboratórios e unidades de saúde públicas e privadas cearenses. Profissionais dos serviços suspensos temporariamente foram orientados a compor a força de trabalho no enfrentamento ao coronavírus. O CFM aponta que, de forma geral, o impacto negativo foi mais drástico durante os dois primeiros meses após a decretação de calamidade pública. “Em abril e maio do ano passado, a pandemia baixou pela metade os atendimentos eletivos oferecidos pelas mais diversas especialidades médicas”, explica.

Entre os serviços mais impactados pela redução, o CFM indica procedimentos oftalmológicos e de diagnóstico por imagem, além de exames de monitoramento de doenças respiratórias e metabólicas e outros preventivos contra o câncer, como mamografia e Papanicolau.

Aumento da fila

Necessidade de realocar leitos para tratar a nova doença e medo da contaminação em ambiente hospitalar. Para Gleydson Borges, mestre do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) – Capítulo Ceará, esses foram os principais motivos que levaram à queda na quantidade de procedimentos. Porém, o isolamento prolongado sem assistência médica também piorou a condição de saúde de muitos pacientes. Com o retorno gradual aos atendimentos, os médicos precisam lidar com o agravamento de casos que, inicialmente, eram considerados simples.

Com o represamento, o cirurgião também nota o descompasso da capacidade de o sistema absorver a demanda. “Os atendimentos ambulatoriais acontecem em progressão geométrica, enquanto os cirúrgicos são em progressão aritmética. Ou seja, atendemos muito mais pacientes do que podemos operar”, observa. Borges estima que a normalização dos serviços a um fluxo regular ainda demore de quatro a seis meses, reforçando que os profissionais de saúde “têm consciência” das situações em que esse prazo possa ser diminuído.

Retomada segura

A Secretaria da Saúde do Ceará informou que reduziu, mas não suspendeu atendimentos ambulatoriais, especialmente para pacientes com quadros mais graves. Conforme a plataforma IntegraSUS, hospitais da rede estadual estão retomando ou até mesmo já ultrapassaram a quantidade de atendimentos em relação a janeiro deste ano, quando os indicadores da Covid-19 estavam em baixa.

A pasta afirma que milhares de leitos montados até maio de 2021 para atender aos infectados com Covid-19 permanecem ativados, tanto na Capital como no Interior, “recebendo pacientes de outras especialidades médicas e também das cirurgias eletivas, que voltaram a ser realizadas em julho”, confirma. E reforça que, diante do atual cenário de redução de casos da doença, o momento “exige atenção e engajamento da sociedade para evitar nova alta de casos”. Também lembra que a vacinação em massa é uma medida eficaz para diminuir a circulação viral e o surgimento de novas variantes.

 

 

(Diário do Nordeste)

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