Mais de 30 equipamentos dão assistência a pessoas que vivem com HIV/aids no Ceará

 


Em 2009, em meio à graduação em História, Rhamon Matarazzo recebeu um diagnóstico que mudou o curso de sua vida: positivo para HIV – vírus que pode provocar aids, o estágio mais avançado da infecção. À época com 22 anos, ele conta, no entanto, que o resultado veio com alívio. “Porque fiz um exame em que a espera durou 30 dias. Não é como hoje, que a gente tem duas horas de espera e já recebe o diagnóstico. Então, naquele tempo, eu pude refletir sobre várias coisas. E, hoje, os jovens podem vir fazer o exame na rede pública de saúde, que eles descobrem (o diagnóstico) mais rápido; tem um tratamento mais efetivo e mais rápido também”, diz.

Neste ano, os primeiros casos de HIV no mundo completam 40 anos. Pessoas que vivem com o vírus ainda lidam com preconceitos e estigmas por parte da sociedade, mas o diagnóstico, atualmente, já deixou de ser uma sentença de morte e encontrou, com o avanço da ciência, tratamento adequado e gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Brasil distribui gratuitamente pelo sistema público, desde 1996, todos os medicamentos antirretrovirais e, desde 2013, garante a terapia para todas as pessoas vivendo com HIV, independentemente da carga viral. Todos os níveis de Atenção à Saúde são responsáveis pelo acolhimento e pela assistência a esta população.

No Ceará, 31 unidades hospitalares ou Serviços de Atendimento Especializado (SAEs) – sejam municipais, estaduais ou federais – integram uma rede de ambulatórios para atender pessoas vivendo com HIV/aids. “A gente procura compreender as regiões do Estado e buscar se ali tem ou não assistência de médico infectologista. Ao longo dos anos, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) sempre vem fazendo formação de equipes multidisciplinares e/ou de profissionais específicos, como médicos da Atenção Primária, profissionais de Enfermagem, para que possam dar suporte”, destaca Lino Alexandre, médico infectologista e assessor especial da Secretaria Executiva de Atenção à Saúde e Desenvolvimento Regional (Seade) da Sesa.

A pasta também vem estruturando e planejando ações para atender quem está inscrito no Programa Cestas Básicas às Pessoas que Vivem com HIV/Aids (PCBPVHA). Cerca de 400 pessoas devem receber o benefício em 2022. Para receber o suporte nutricional, é preciso ter o diagnóstico de HIV/aids, residir no Ceará, estar vinculado a um serviço de saúde e com adesão ao tratamento, além de estar cadastrado previamente na plataforma Saúde Digital. Pessoas a partir de 60 anos, gestantes (em qualquer idade gestacional) e pessoas em tratamento para tuberculose durante a vigência do auxílio têm prioridade.

Na rede estadual, os hospitais São José (HSJ), Geral de Fortaleza (HGF), Infantil Albert Sabin (Hias) e Geral Dr. César Cals (HGCC), por exemplo, além de policlínicas na Capital e no Interior, dão assistência a diferentes perfis de pessoas HIV positivas. No período de janeiro de 2012 a novembro de 2021, 14.071 casos de infecção pelo vírus e 10.215 de aids foram notificados no Estado, conforme boletim mais recente da Sesa.

Prevenção combinada

A prevenção é, ainda, a melhor forma de combater a infecção pelo vírus. Quando a estratégia é combinada, fazendo uso simultâneo de diferentes abordagens, a proteção é maior. As intervenções podem ser biomédicas, quando há uso de preservativos masculinos ou femininos ou de Profilaxias Pós-Exposição (PEP) e Pré-Exposição (PrEP); comportamentais, com incentivo ao uso de preservativos, à testagem, aconselhamento sobre HIV/aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs); e estruturais, com ações de enfrentamento ao racismo, sexismo, LGBTfobia, promoção e defesa dos Direitos Humanos, por exemplo.

Pessoas muito jovens, que não viram isso [ápice da epidemia, na década de 1980], e que já entraram na sua vida sexual sabendo que existia tratamento para o vírus HIV, um tratamento efetivo, tendem a negligenciar essas barreiras de proteção”, pontua o médico infectologista Érico Arruda.

A negligência quanto à prevenção e ao tratamento caminha ao lado do preconceito, arranjo que faz com que os índices de infecções cresçam e casos se agravem. “Todos nós temos direito à dignidade humana. E essa solidariedade tem de vir da sociedade também. Eu não posso viver sozinho; tenho de me juntar a coletivos, estudar sobre a temática, me fortalecer enquanto ser humano, para que isso seja difundido entre os jovens. Principalmente para que eles possam fazer os seus exames de HIV, de sífilis, de hepatites virais, periodicamente, para que a epidemia, aos poucos, se dissipe”, afirma Rhamon Matarazzo, hoje com 34 anos. “Tenha o seu tempo de guardar o seu diagnóstico. Respeite seu corpo. Venha sempre ao hospital. Você, pessoa vivendo com HIV, faça o seu tratamento em dia. Não abandone as medicações, que até hoje é a única forma que a gente tem de viver naturalmente”, continua o ator.

 

 

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