Confira a saga empresarial do ipuense Zezé Carlos e sua empresa Vipu.
Durante uma década, o verde da Vipu uniu o nordeste à região
centro-oeste do País, dando continuidade ao pioneirismo iniciado em 1966
pela Expresso Ipú Brasília, empresa que a originou duas décadas antes
de sua fundação.
Para entendermos o
nascimento da saudosa Vipu, vamos conhecer um pouco da trajetória de seu
fundador, o pioneiro José Carlos Sobrinho, que iniciou no ramo de
transporte na década de 60 com apenas 30 anos de idade. Com o apoio de
seus dois irmãos, transformou seu caminhão em ônibus e passou a
transportar passageiros entre Ipú, no norte do Ceará, e a nova Capital,
Brasília, inaugurada anos antes.
Assim nascia uma das mais eficientes empresas de transporte
rodoviário do Nordeste, a Expresso Ipú Brasília, vencendo longas
distâncias de muita poeira, lama e dificuldades.
Na
época, o percurso entre Ipú e Brasília era realizado em seis dias de
viagem, pois não havia estradas asfaltadas. Apesar das dificuldades, o
negócio dos três irmãos deu certo e ampliaram novos horizontes, através
da aquisição de importantes concessões de linhas durante a década de
1970.
Mas foi em meados de 1987, que a segunda geração da família entrou no negócio, decidindo então se separar.
A
Expresso Ipú Brasília passou à direção de um dos irmãos para dedicar-se
exclusivamente ao transporte intermunicipal no Ceará. Outra parte do
negócio, sob a presidência de José Carlos Sobrinho, deu origem à Viação
Ipu (sigla VIPU).
A Vipu nasceu com a missão de dedicar-se às linhas
interestaduais, especialmente aquelas entre o Ceará e Brasília. As
estradas já eram asfaltadas, possibilitando que a empresa
disponibilizasse um serviço com foco exclusivo a este perfil de
passageiro.
Para vencer longas
distâncias e terrenos difíceis, a Vipu optou logo nos primeiros anos por
padronizar toda sua frota com veículos da marca Scania, inicialmente
com os modelos S112CL e K112TL, com carrocerias Cobrasma e Marcopolo.
A
numeração da frota era um caso especial, o prefixo do veículo coincidia
com o número da placa, além disso, seguiam uma sequência lógica, onde o
primeiro dígito era sempre 7, seguido pelos demais que pulavam de 7 em
7, por exemplo, 7007, 7014, 7021, 7028, 7035...
Em apenas três anos de atividades e acreditando no seu potencial, a Vipu recebe o Prêmio Destaque Empresarial/90, reconhecida como uma das melhores empresas do Ceará no mundo dos negócios. A partir do começo da década de 1990 sua frota passou a ser padronizada apenas com ônibus de carrocerias Busscar e Marcopolo, sempre com motor Scania 113.
Em 1993, José Carlos sobrinho passou a dedicar-se à política,
elegendo-se prefeito de Ipú entre 1993 e 1996. Com muito entusiasmo e
vocação para a militância, afirmava “A política foi a tarefa que abracei
e vou continuar nela por muitos anos”. Seu legado deixou raízes que
perduram em toda a charmosa cidade de Ipú.
Seguindo
com objetivos planejados, a Vipu caminhava no sentido de melhorar cada
vez mais seus serviços. Sob o controle da família, a diretoria da Vipu
estava configurada na seguinte forma: José Carlos Sobrinho (Diretor
Superintendente), Marcelo Joseme Abreu Carlos (Diretor Administrativo),
Marcos Vinicius Abreu Carlos (Diretor de Manutenção) e Marco Petrônio
Abreu Carlos (Diretor Financeiro).
Principais linhas da Vipu
Fortaleza / Brasília (DF), Fortaleza / Goiânia (GO), Icó / Brasília (DF), Juazeiro do Norte / Brasília (DF), Petrolina (PE) / Brasília (DF), Picos (PI) / Goiânia (GO), Salgueiro (PE) / Brasília (DF), Sobral / Brasília (DF), Sobral / Goiânia (GO).
Além destas, a Vipu também operava regularmente a linha Fortaleza / Campo Grande (MS), considerada a maior linha da empresa com aproximadamente 3.850 km de extensão. Por um período, a Rodoíl, empresa do grupo Vipu, chegou a operar na referida linha.
Em 1995, a Vipu resolve diversificar suas atividades para o
ramo de transportes de cargas. Com o crescimento de encomendas, foram
adquiridos oito caminhões médios para entregas urbanas e quatro pesados
para atender as principais rotas dos ônibus.
A
partir de 1996, a empresa começa a investir na compra de veículos
executivos com ar condicionado. Os veículos de motor dianteiro passam a
ser adquiridos com o terceiro-eixo, até então usado somente nos ônibus
traseiros da frota.
No ano seguinte,
com o lançamento de veículos com 14 metros de comprimento, a Vipu
adquire os primeiros três ônibus “Big 14”, batizando assim os prefixos
da série 5.
Embora as condições de rodagem fossem bem melhores comparáveis
às primeiras décadas de operação da empresa-mãe Ipú Brasília, os ônibus
da Vipu ainda precisavam enfrentar um trecho de quase 100 quilômetros de
estrada de terra no interior do nordeste. Com isto, a empresa teve que
buscar ainda mais eficiência e durabilidade para seus veículos, sem
prejuízo do conforto para os passageiros.
Com
os ônibus Scania motor dianteiro de 14 metros de comprimento, a Vipu os
equipou com ar condicionado, televisão/vídeo e auto-serviço de
água/cafezinho, dispondo 46 lugares, traduzindo em maior espaço entre as
poltronas e deixando o passageiro mais à vontade. Esta configuração
passou a ser padrão.
Já naquela época,
preocupado com o conforto dos passageiros em viagens de longa distância,
o Diretor Financeiro Marco Petrônio, esperava que no futuro, esse tipo
de serviço passaria a ser considerado “convencional”, enquanto o serviço
executivo poderia evoluir para um nível de sofisticação ainda maior,
com redução do número de paradas e melhoria da estrutura de comunicação.
Com
o serviço Executivo-Expresso, a Vipu cumpria em apenas 34 horas o
percurso entre Fortaleza e Brasília, o que representava um ganho de oito
a dez horas sobre a duração normal da viagem.
Em entrevista a revista Abrati de 1997, o Diretor de Manutenção
Marcos Vinicius, explica a escolha do F-113: “O motor dianteiro
proporciona maior desempenho e baixa manutenção”, explicando que com
isso aumentou a confiabilidade das viagens e, ao mesmo tempo, foi
possível manter para os usuários um serviço com alto padrão de
qualidade.
“Chegamos à conclusão de que
ônibus Scania são os que respondem melhor às necessidades das nossas
linhas, que são bastante longas, a escolha teve reflexo imediato também
sobre os nossos custos, inclusive de manutenção de estoques”, explicou o
então Diretor Financeiro, Marco Petrônio Abreu Carlos.
Na Vipu, o cuidado com a frota Scania merecia atenção especial,
além das manutenções de rotina feita nas garagens, todas as revisões e
reparos eram realizados numa concessionária Scania em Fortaleza. Em
entrevista à Revista Rei da Estrada de 1997, Marcos Vinicius comenta “Só
utilizamos mão-de-obra especializada e peças originais em nossa frota”,
e acrescentou “Jamais tivemos um ônibus quebrado por descuido na
manutenção. Nossos passageiros têm sempre certeza que estão viajando em
um ônibus seguro”.
O perfil dos
usuários da empresa havia mudado, foi-se o tempo em que seus ônibus
trafegavam lotados de pessoas que viajavam só com a roupa do corpo rumo à
então chamada Capital da Esperança. Muitos dos clientes tornaram-se um
público de classe média e, em boa parte, turistas, pessoas que não
trocavam o baixo custo e o conforto de um ônibus pela viagem de avião.
O respeito da Vipu com seus clientes, fez desenvolver um bem
cuidado programa de comunicação e informação ao usuário. Em todos os
ônibus, eram instaladas pequenas urnas com formulários para sugestões ou
reclamações. Tal preocupação com o passageiro refletia em raras queixas
e constantes elogios.
Ainda em 1997,
com uma frota de 53 ônibus Scania e média de 3,6 anos, o índice de
ocupação dos ônibus situava-se em torno dos 73%. Naquele momento a
empresa emprega 264 funcionários com garagens em Fortaleza, Sobral,
Petrolina, Brasília, Goiânia e Campo Grande, além de vários pontos de
apoio.
Ao centro, o diretor Financeiro Marcos Petrônio Abreu
Carlos, ladeado por parte da equipe de motoristas e pelos assessores
Raimundo Nonato Gomes e Manoel Sales Neto (Revista Abrati nº 10)
Atualmente, seus antigos diretores continuam atuando no transporte de passageiros, porém com empresas bem sucedidas que atuam em três estados do nordeste.
No Ceará, berço do grupo, a Fretcar consolidou uma sólida participação no transporte de passageiro urbano, metropolitano e intermunicipal. Já na Bahia e Sergipe, atuam com as empresas Vitral e Modelo respectivamente, ambas no transporte urbano das capitais destes estados.