Brasileiro que morreu na guerra da Ucrânia trabalhou como segurança de shopping em Fortaleza

 Brasileiro André Luis Hack Bahi na Ucrânia — Foto: Arquivo pessoal

O brasileiro André Luís Hack Bahi, morto em confronto na guerra entre a Rússia e Ucrânia, morou em Quixadá e Fortaleza, ambas no Ceará. Na capital cearense, ele trabalhou como segurança armado de shopping e de carro forte, como revendedor autônomo de celulares e como motorista de aplicativo. O g1 entrevistou, nesta quinta-feira (9), Daniel Girão, amigo do brasileiro que morou em Fortaleza e no município do interior cearense, onde eles se conheceram.

A morte foi confirmada pelo Ministério das Relações Exteriores e pela irmã, Letícia Hack Bahi, que mora em Porto Alegre, cidade natal de André. Em nota, o Itamaraty afirma que ele morreu "em decorrência do conflito naquele país e mantém contato com familiares para prestar-lhes toda a assistência cabível, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local". De acordo com a família, a morte teria ocorrido no sábado (4), em meio a um combate.

Daniel disse que o André se dividia entre os compromissos pessoais e profissionais indo de Quixadá à Fortaleza com frequência. Porém, antes de ir à guerra, ele passou um tempo fixo na capital, por conta dos empregos.

“Primeiro, ele foi para trabalhar como segurança armado de um shopping. Depois, ele trabalhou com carro forte. Por fim, ele começou a trabalhar com venda de aparelhos telefones e como motorista de aplicativo”, disse o técnico em informática que, inclusive, frequentava a casa de André na capital.

A relação do gaúcho com as cidades cearenses era tão íntima, que o corpo de Hack deve ser cremado e, as cinzas, jogadas em Quixadá, onde vivia, de acordo com a família. O brasileiro, além da família, deixou amigos e ex-namoradas no Ceará.

Amizade entre Daniel e André

A amizade dos dois começou quando se conheceram um grupo de motociclistas, em 2016, e ficou mais forte após André convidar Daniel para ser parceiro de vendas dos eletrônicos.

“O André gostava muito de motos, de passeios, de viagens. Ele tinha uma namorada aqui em Quixadá que também fazia parte desse motogrupo. A gente fidelizou a amizade a partir deste momento”, lembrou Daniel.

“Quando ele veio para Quixadá, ele já tinha feito parte de uma legião [Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia] lá na França. Ele morou no exterior durante uma época. Ele já tinha participado antes de eu conhecer ele. Ele comentou que fazia parte dessa legião, que era como se fosse um apoiador dos países estrangeiros aqui no Brasil”, complementou o parceiro de vendas de André.

Antes de morar em Quixadá, o brasileiro morou em Fortaleza. Ele saiu da capital para ficar mais perto da namorada à época; mas eles terminaram e André voltou para Fortaleza.

'Soube através das notícias'

Daniel informou que, com a mudança de André para Fortaleza, eles ficaram um poucos mais distantes, porém ainda mantinham contato. “A gente conversava por conta dos negócios. Tinha fornecedores de aparelhos que, vez ou outra, ele enviava para mim”, disse o revendedor. Apesar das conversas, Daniel não sabia dos planos do amigo de ir para a guerra.

“Antes de ele ir, ele comentou comigo que ele estava terminado um curso de enfermagem — inclusive, fazia estágio aqui em Quixadá. Todas as vezes que ele estava por aqui, a gente se falava, se encontrava. Ele me falou que estava terminando esse curso e ia voltar para essa legião, mas eu não sabia que ele ia para a Guerra da Ucrânia. Eu soube através das notícias”, destacou Daniel.

“Ele não comentou com ninguém. Ele disse que ia voltar para lá [Europa], mas eu não achei que fosse para a guerra ser um dos apoiadores. Eu até tentei mandar mensagem para ele, mas ele já estava muito restrito. Era muito difícil ele responder, então a gente perdeu o contato depois que ele foi para a guerra”, complementou o quixadaense.

‘Ato de heroísmo’

Daniel, que soube da ida do amigo à guerra por meio da imprensa, também descobriu da morte após as notícias. Ele lamentou a partida de André.

“Eu fiquei muito triste, porque ele tinha família, tinha filhos, tinha esposa, mas depois eu acabei respeitando a decisão dele. Ele foi ciente que poderia morrer, porque é uma guerra, o risco de morte é grande. Hoje eu vejo isso como um ato de heroísmo da parte dele”, disse Daniel.

“A gente tinha um laço de amizade, conversava, brincava. A gente saía para viajar. Acabei sentindo muito. Eu entrei em contato com a família, mandei meus sentimentos porque eles estavam muito abalados”, reforçou o cearense. 

 

 

(g1)

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