Mulher relata assédio de urologista na BA

 Fotos mostram que profissional pediu para que vítima não o 'prejudicasse' — Foto: Reprodução/TV Bahia

Uma paciente prestou queixa na delegacia depois de uma consulta com um urologista, em Salvador, relatando que foi tocada nas partes íntimas pelo médico. A mulher, que prefere não ser identificada, disse que registrou um Boletim de Ocorrência (BO) por se sentir molestada. Ela também afirmou que relatou o constrangimento ao médico, que, por mensagens de celular, pediu desculpas e para que não fosse prejudicado.

Também por mensagem, o médico disse que foi um mal entendido e que queria se desculpar pessoalmente. "Não me prejudique... Pela minha filha... Não tem necessidade", pediu ele.

Fotos mostram que profissional pediu para que vítima não o 'prejudicasse' — Foto: Reprodução/TV Bahia

Fotos mostram que profissional pediu para que vítima não o 'prejudicasse' — Foto: Reprodução/TV Bahia

A mulher, então, respondeu que não voltaria ao consultório sabendo que o profissional desejava sair com ela.

"Tentar me tocar na maca me fez sentir completamente assediada, foi muita falta de ética", escreveu ela.

O médico pediu perdão e disse que estava muito triste. Em mensagens enviadas no dia seguinte, o urologista disse que não dormiu de preocupação.

Em entrevista, a mulher disse que escutou do médico durante a consulta: ‘É, minha florzinha, você sentia dores, mas agora não sente mais não'. Ela também afirma que ele a beijou na testa.

“E aí ele veio para me dar um beijo na testa, me deu um beijo na testa. Depois veio para me dar um beijo na boca, foi quando eu tomei aquele susto, virei o rosto e ele pegou na ponta do meu nariz”, contou ela.

"E fez: 'eu vou te dar alta e você vai sair comigo".

Em nota, a Polícia Civil disse que a apuração do caso está em andamento na delegacia do Rio Vermelho, na capital baiana. A corporação afirmou também que os depoimentos já estão sendo colhidos e o investigado vai prestar depoimento na unidade policial.

"Hoje é muito doloroso pra mim para falar sobre isso, mas eu não posso ficar calada. Tenho que denunciar, porque pode ser que outras mulheres tenham passado por isso, ou pode ser que eu tenha sido a primeira, mas que não tenha outras vítimas, né? Minha intenção é justamente essa", disse a paciente.

"Eu sofri uma violência sexual mediante fraude. Eu não posso ficar calada, eu não posso me calar diante disso."

Casos na Bahia

Entre 2018 e 2022, o Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) instaurou 14 sindicâncias para investigar denúncias de assédio sexual. Desse total, uma ainda está sendo apurada, cinco foram arquivadas por falta de provas e oito resultaram em processos ético-profissionais para apuração de infração ética.

Nesse período, dois médicos tiveram o exercício profissional cassado, mas continuam atuando porque entraram com recurso no Conselho Federal de Medicina. A presidente da Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) destaca a importância da denúncia e diz que a violência sexual praticada por médicos deve ser investigada.

A violência sexual é só um dos tipos de crimes praticados contra a mulher. Pelos registros de ocorrências policiais na Bahia, nos anos de 2020 e 2021, o crime de ameaça está no topo das denúncias, seguido de lesão corporal dolosa, injúria, estupro, tentativa de homicídio, importunação sexual e feminicídio.

Os boletins de ocorrências mostram queda no número de denúncias da maioria desses crimes entre 2020 e 2021. Apenas importunação sexual registrou discreto aumento.

Para a advogada criminalista Dandara Pinho, muitas mulheres deixam de procurar a polícia porque não se sentem à vontade para fazer a denúncia. 

 

 

(g1)

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