Interior do Ceará tem mais de 11 mil crianças e adolescentes fora da escola, diz Unicef

 

Matricular-se na escola não é garantia que o desenvolvimento de competências e habilidades será atingido: em muitos casos, o percurso pode ser interrompido por diversos fatores. Prova disso é que, no interior do Ceará, mais de 11 mil crianças e adolescentes abandonaram as unidades de ensino, de acordo com levantamento do Unicef.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) compilou dados de 183 municípios cearenses, excluindo a capital Fortaleza, que não participa do Selo Unicef.

Ao todo, em 2019, foram identificados 15.102 estudantes das redes municipais e estaduais. Destes, até o último dia 29 de junho, 3.705 haviam retornado às escolas, conforme a plataforma Busca Ativa Escolar, do Selo.

O cruzamento de informações se dá a partir do Censo Escolar, na categoria de meninos e meninas “não localizados”, ou seja, que estavam matriculados no ano anterior e no Censo atualizado não são encontrados.

Portanto, há 11.397 crianças e adolescentes cearenses ainda fora da escola.

Estratégias para buscar ativamente esses jovens, evitar novas baixas e acolhê-los serão debatidas nos dias 2 e 3 de agosto, em Fortaleza, num encontro entre o Unicef e técnicos de municípios cearenses. No evento, as equipes municipais poderão aprofundar o conhecimento a partir de estudos de caso e compartilhamento de experiências.

O evento “Encontros pela Educação no Selo UNICEF – Fortalecendo políticas públicas para crianças” busca apoiar as prefeituras a assegurar os direitos de meninas e meninos, e será realizado no Praia Centro Hotel Fortaleza / Fábrica de Negócios. Segundo o Unicef, a iniciativa será replicada em 18 estados do Semiárido e da Amazônia.

Sônia Fortaleza, presidente da Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Ceará (APDMCE), instituição que implementa o Selo Unicef no Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, destaca que a pandemia da Covid-19 foi um fator preponderante para afastar as crianças do ambiente escolar.

Entre as hipóteses para o afastamento, estão a morte dos pais ou responsáveis ou mudanças de endereço.

Contudo, além de trazê-las de volta para o convívio escolar, há o desafio de “resgatar todo o aprendizado perdido durante todo esse tempo”, cuja defasagem ainda está sendo diagnosticada pelas redes educacionais.

“A gente precisa também retomar esse vínculo família-escola para que eles reconheçam a importância desse ambiente para o desenvolvimento dos seus filhos. Paralelo a isso, vamos ter que fazer um acompanhamento psicológico dessas crianças”, observa.

Renata Pires, psicopedagoga e mestre em psicologia, aponta que parte das crianças pode ter desenvolvido quadros de fobia social ou depressão e precisam ser seguidas “nesse momento de transição”.

“Algo que precisa ser pensado é que não podemos considerar a opção sem escola, isso é prioridade. Qualquer movimento que se faça nesse momento de uma criança ou adolescente fora da escola deve ser encarado como transição, não de permanência”, analisa.

 

(Diário do Nordeste)

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