O servidor público Nílbio Thé, 41, denuncia que o filho de 12 anos foi vítima de discriminação racial durante uma edição da Feira Internacional de Artesanato e Decoração (Feincartes), no shopping Riomar Fortaleza, no bairro Papicu.
O adolescente, que é negro, foi confundido com pedinte. O caso teria acontecido no último dia 30 de julho, mas só foi denunciado pelo pai da vítima, na última terça-feira, 23.
Ele registrou a ocorrência no 15º Distrito Policial da Polícia Civil do Ceará (15º DP).
De acordo com Nílbio, o episódio aconteceu durante uma degustação de queijo em um stand do Empório Gaúcho.
“Ele super gosta de queijo e sabia que tinha degustação. Pela primeira vez ele foi lá e foi negado. A moça olhou para ele e disse: “Você sabe que eu não posso lhe dar queijo, você já sabe. Então, não me peça porque eu não posso dar'”, conta Nílbio, conforme relato do filho.
Diante da situação, o servidor público conta que o filho ficou constrangido, chegando a pedir desculpas para a atendente do stand. Após a negativa, ele foi embora do local.
O estudante não chegou a relatar o episódio aos pais logo em seguida.
Apenas três dias após o caso, quando estava novamente no shopping com a mãe, e que retornou à feira, foi que relatou o que houve.
“Foi só na terça-feira à noite que ele comentou com a mãe dele: “Só a moça do queijo que foi meio rude comigo”. A Marise [mãe] olhou para ele e perguntou: "Meio rude como?" Então, ele contou a história. Ele não deixou a mãe ir ao local, tentando explicar que a moça foi até gentil porque ela avisou do segurança, que o problema era o segurança”, conta Nílbio.
Contato com o shoppingO servidor público buscou a administração e o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) do shopping, antes de realizar um Boletim de Ocorrência.
Ele tentou buscar informações do stand em que aconteceu o episódio, além de saber quais medidas o shopping Riomar Fortaleza realizaria como forma de responsabilidade do caso.
De acordo com Nílbio, o shopping entrou em contato no dia seguinte, alegando não ter culpa. Ainda assim, ofereceu uma sessão de cinema gratuita para o seu filho.
No entanto, o servidor explica que "não deseja dinheiro ou sessões de encantamento" para o seu filho.
“Acontece que o meu filho que antes entrava em todas as lojas, permanece constrangido e inseguro de continuar entrando em lojas por medo de ser discriminado por sua aparência”, relata.
Ainda segundo Nílbio, no dia 17 agosto, em um segundo contato com o shopping, foi solicitado ao empreendimento informações sobre a atendente do stand a fim de auxiliar nas denúncias do crime.
O Riomar Fortaleza retornou ao servidor informando que não poderia dar os dados devido a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Em nota, o Riomar Fortaleza lamentou o episódio e informou que orientou o consumidor e fez a intermediação entre ele e o operador da Feira, locatário do shopping e responsável pela gestão dos stands.
“É inquestionável que atos de racismo não devem ser tolerados em nenhuma esfera da sociedade. Inclusive, trabalhamos constantemente por meio de nosso Comitê de Inclusão e Diversidade a importância do respeito a todos os que frequentam o shopping. O empreendimento segue à disposição para qualquer novo questionamento sobre a ocorrência”, consta em nota.
O POVO procurou a administração da feira, por meio de ligações e mensagens no WhatsApp para um número disponibilizado na página do Instagram, às 16h14min, dessa quarta-feira, 24. A Feincartes não retornou com um posicionamento sobre o caso.
Funcionária foi desligada da empresaO Empório Gaúcho também foi procurada pelo O POVO, às 19h10min, dessa quarta-feira, 24. Por meio de mensagem no WhatsApp, nesta quinta-feira, 25, a empresa informou que a funcionária que cometeu o ato foi desligada. “Não temos lugar para pessoas assim”, disse.
“Racismo é uma coisa que mata todo dia. A gente frente a uma bala perdida, a violência policial, negar um queijo é até irrisório. Mas, se a gente não combater pequenas coisas, o negócio cresce”, pontuou o pai da vítima.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) informou que a Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) investiga uma denúncia de preconceito de raça ou cor.
“O fato foi noticiado por meio de um Boletim de Ocorrência (BO). O caso está a cargo do 15º Distrito Policial (15º DP), unidade que realiza diligências para elucidar os fatos”, disse a pasta.
DenúnciasA SSPDS reforça que a população pode contribuir com as investigações repassando informações, com sigilo e anonimato garantidos.
Disque-Denúncia: 181
WhatsApp da SSPDS: (85) 3101 0181
15º DP: (85) 3101 1137