Homem pesca bagre de 12 quilos no Rio Tietê; espécie sobrevive à poluição e põe em risco outros peixes

 

Pescador Pedro Antonio da Silva encontrou bagre africano no Tietê — Foto: Pedro Antonio da Silva/Arquivo Pessoal
Acostumado a pescar em rios, lagoas e pesqueiros, Silva encontrou bagres africanos gigantes no trecho do Rio Tietê na cidade onde vive, na região metropolitana de São Paulo. A espécie exótica tem respiração bimodal: significa que consegue retirar oxigênio do ar atmosférico e não apenas da água (veja detalhes abaixo).

“Disseram que tinha bagre lá. Mesmo sujo é comum ter. Eu fiz um estudo e ele sobrevive facilmente. Ele gosta de escuro e água suja é escura.”

O pescador fez vídeos da luta para pescar o bagre (assista acima). Na primeira tentativa, por falta de apetrechos específicos, não conseguiu retirar o bagre do rio. “Ele escapou...cortou a linha e fugiu. Ele tem dentinhos bem pequenos.”

O pescador calcula que o peixe deveria ter uns 12 quilos. Já em uma segunda tentativa, conseguiu pescar o bagre.

Silva é adepto da pesca esportiva, ou seja, depois de capturar o peixe ele o solta novamente. O pescador afirma que já encontrou outras espécies de peixes no Tietê. “Tem peixes menores como tilápia, carpa, bagre, mas é do pequeno, traíra que é pequena.”

Alexandre Hilsdorf — pesquisador, professor da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e coordenador do laboratório de genética de organismos aquáticos e aquicultura do Núcleo Integrado de Biotecnologia — explica que o bagre africano é uma espécie exótica, ou seja, não é nativa do Rio Tietê.

O professor afirma que tem sido observada a proliferação da espécie no Tietê. “Na Ilha Marabá [em Mogi das Cruzes] também está lotado...na barragem da Penha [ em São Paulo] já pegaram bagre africano.”

No entanto, Hilsdorf alerta que esse não pode ser considerado um sinal que o rio voltou à vida. “Essa espécie foi trazida para o Brasil para a piscicultura na década de 1980. Ela cresce rápido e não tem espinhas."

Hilsdorf explica que o bagre africano tem capacidade de suportar águas com baixa concentração de oxigênio. "Os indivíduos dessa espécie têm uma respiração bimodal, isto é, eles possuem órgãos de respiração aérea presentes nos arcos braquiais que lhes permitem assimilar o ar atmosférico diretamente".

O professor alerta que, apesar do que muitas pessoas dizem, esses bagres não possuem pulmão. "Essa espécie originária da África não é um peixe do grupo dos peixes dipnóicos conhecidos por terem uma respiração por meio de um órgão que funciona como um pulmão primitivo ligada a faringe. No Brasil esses peixes se encontram principalmente na Bacia Amazônica, como a piramboia (Lepidosiren paradoxa)."

Hilsdorf lembra ainda que, na África, quando seca o rio, esse peixe se enterra e fica esperando voltar a água. E consegue viver sem água. "É carnívoro e come qualquer coisa. Reproduz em água parada. São condições perfeitas para proliferação no Tietê", diz.

O pesquisador alerta que a proliferação do bagre gigante africano no Tietê pode impedir a reprodução de peixes nativos do rio, como tabaranas, lambaris, entre outros. “Vai comer essas espécies e compete por alimento. São poucas espécies que existem no trecho urbano. O bagre africano cresce muito e a chance de peixes pequenos chegarem à idade adulta diminui.”

Quanto ao consumo do peixe, o professor observa que é preciso um exame para verificar se a carne não está contaminada. "O rio é poluído e não sabemos se na água tem mercúrio e metais pesados que podem incorporar na carne. E isso só pode ser confirmado se fizer testes na carne do peixe."

A ONG SOS Mata Atlântica faz o monitoramento da bacia hidrográfica do Rio Tietê. O estudo mapeia desde a nascente do rio em Salesópolis até a jusante da eclusa em Barra Bonita. 

G1

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