A operação deflagrada nessa quinta-feira, 11, que afastou sete policiais militares investiga o envolvimento dos agentes de segurança em um episódio em que cerca de 400 quilos de maconha
foram arrebatados de traficantes de drogas do bairro Barroso, em
Fortaleza. O caso teria ocorrido na madrugada do dia 17 de janeiro de
2022.
O POVO apurou que a investigação do caso teve início
após a Coordenadoria de Inteligência (Coin), da Secretaria da Segurança
Pública e Defesa Social (SSPDS), receber denúncia anônima de que
policiais em uma viatura caracterizada da Polícia Militar, ao lado de
homens em carros "particulares", invadiram uma residência no Barroso e
de lá levaram a droga.
Conforme o relatório técnico (RT) 036/2022, da Célula de
Contrainteligência (Cecint) da Coin, uma mulher estava sendo ameaçada
por causa do sumiço da carga, pois seria ela a responsável pela guarda
do material e, como não houve notícias sobre a apreensão, criminosos
suspeitavam que ela tinha roubado a droga.
A Coin também recebeu vídeos que teriam captado o momento do crime.
As imagens mostram uma viatura da PM parando em uma rua do bairro e dois
homens descendo do carro e verificando algo na esquina, retornando, em
seguida, para dentro do veículo.
Em seguida, a viatura faz um retorno na via, enquanto um carro que
aparenta ser uma picape sai de uma rua perpendicular, de onde a viatura
da PM estava vindo, e toma o mesmo sentido do veículo oficial. Na
denúncia anônima também constava vídeos da droga em embalagens vermelhas
empilhadas no piso de um imóvel.
A Inteligência da SSPDS ainda localizou outras câmeras de vigilância
que registraram a presença dos veículos na região naquele dia. "As
imagens das câmeras de segurança analisadas não deixam dúvidas de que a
viatura policial seguiu de perto os dois veículos, tanto no caminho de
ida quanto na volta, chamando a atenção o fato de que nesse trajeto de
volta a viatura permaneceu com o intermitente ligado (o que não ocorreu
na ida), como se realizasse algum tipo de 'escolta'", afirma o RT
036/2022-Cecint/Coin, de 2 de março de 2022.
A Coin também identificou que a viatura da PM envolvida na ocorrência é pertencente à 1ª Companhia do 16º Batalhão da PM. Em consulta a sistemas policiais, o órgão constatou que os PMs que estavam na viatura não registraram o atendimento a nenhuma ocorrência de apreensão de drogas naquele dia.
Além disso, a Coin identificou que os dois veículos que estavam em
"comboio" com a viatura eram uma S-10 prata sem placas e um Duster
branco utilizado pelo Serviço Reservado do 19º BPM.
“Frise-se que não é comum que viaturas do Serviço Reservados dos Batalhões Militares (Subagências de Inteligência da PMCE) circulem de madrugada, a não ser em eventuais situações de apoio a ações em andamento (o que não era o caso, conforme se depreende da análise das ocorrências registradas na Ciops naquele turno de serviço da VT (viatura) [...], e ainda assim, o apoio seria dado ao seu Batalhão de origem (19º) e não, estranhamente, a uma viatura do 16º BPM”, afirma o RT, que termina afirmando ser preciso aprofundar-se na investigação para que o crime seja caracterizado.
Operação Magnatas: dois PMs foram presos em flagrante
Nessa quinta, durante cumprimento de mandados de busca e apreensão, a operação Magnatas, como foi batizada, dois policiais foram presos em flagrante, após serem encontrados, um, com um por posse de drogas para consumo próprio e, outro, por posse de munições de arma de uso restrito.
O POVO apurou que o PM preso por posse de munições de uso restrito foi o soldado Antônio Luiz Pereira Júnior. Em audiência de custódia realizada nesta sexta-feira, 12, a Justiça converteu a sua prisão em cumprimento de medidas cautelares, como o pagamento de fiança no valor de dois salários mínimos.
Os nomes dos demais PMs alvos da operação não foram divulgados. O caso tramita em segredo de justiça. “A investigação apura a participação dos PMs em crimes de peculato, tráfico de drogas, associação criminosa, arrebate (tomada violenta de entorpecentes de traficantes) e transporte de drogas”, informou o Ministério Público Estadual (MPCE).