Número de jovens trabalhando no campo cai e afeta agricultura familiar

 Em uma década, o campo perdeu mais de 1 milhão de jovens trabalhadores — Foto: JN

Plantar, colher, ver os frutos brotarem do campo: é a vida que faz sentido para Cleonice, apaixonada pela terra e por tudo que ela é capaz de gerar. Há dez anos, a agricultora e o marido começaram a produzir em um cantinho de Nova Lima, perto de Belo Horizonte. Os negócios cresceram, mas conseguir mão de obra, principalmente entre os jovens, tem sido um desafio.

"Todo dia você tem que plantar, arrancar mato, regar. E eu acho que só quem entende o valor da comida, do que ela come, o valor de você ir ali e colher uma alface que você quer fazer uma salada agora, que tem esse amor mesmo pelo campo", afirma Cleonice Ramos de Jesus.

Em uma década, o campo perdeu mais de 1 milhão de jovens trabalhadores 

Em 2012, o Brasil tinha 4,7 milhões de jovens de 16 a 32 anos que ajudavam nessa lida da roça, mas no ano passado esse número despencou. Em uma década, o campo perdeu mais de 1 milhão de jovens trabalhadores e é uma força de trabalho importante demais para manutenção da agricultura familiar.

São quase 4 milhões de propriedades familiares em todo o país, que representam 77% dos estabelecimentos agrícolas.

Alexandre Ferraz, técnico do Dieese, explica que é preciso pensar em ações que tornem o campo mais atrativo ao jovem:

"O Brasil vem perdendo muito o jovem do campo, e isso se deve muito à baixa atratividade da vida no campo. Políticas como modernização agrícola, principalmente a conectividade do campo; políticas educacionais; escolas técnicas que permitam a esse jovem se manter estudando no campo e crescendo".

Demanda tem. Nas terras de Cleonice e do Tarcísio, a produção só cresce, e eles criaram uma pequena indústria para vender outros produtos.

"A gente trabalha com os porcos aqui do sítio e as galinhas, fazendo linguiças, fazendo defumados, fazendo charcutaria. A gente faz banana desidratada, a gente faz uma série de pequenas manipulações que agregam valor e, ao mesmo tempo, mantêm a mesma qualidade e a mesma integralidade dos alimentos", diz o agricultor Tarcísio Ribeiro Júnior.

A produção em alta foi uma oportunidade para Mônica Santos Matos, que fez o caminho inverso dos jovens. Largou a capital para trabalhar na roça e dar aos filhos uma vida diferente.

"É bem melhor do que a cidade grande, que é mais complicada. Aqui é natureza. Eu acho que é isso que a gente precisa: da natureza, cuidar mais dela", celebra.

G1

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