earense sofre ameaças e tentativa de golpe. — Foto: Reprodução |
Um cearense de 25 anos, que não será identificado nesta reportagem por
questões de segurança, sofreu uma tentativa de golpe no dia 16 de
agosto. A vítima relatou ao g1
que o golpista ligou, enviou áudios e mensagens com ameaças à sua vida e
à sua família. Ele se apresentou como liderança de um grupo criminoso
que opera no estado.
O jovem explicou que havia aberto um cadastro como Microempreendedor individual (MEI) há cerca de uma semana - antes da tentativa de golpe - no portal do Governo Federal. Desde então, vinha recebendo e-mails com conteúdos estranhos, o que levantou certa desconfiança.
"Desde que eu abri uma conta MEI, vinha recebendo vários e-mails de phishing, tentativa de roubar dados e até e-mails que utilizavam instituições federais. Recebi alguns SMSs também com mensagens para pagar uma taxa da abertura do MEI. Por último, recebi essa tentativa de golpe mais agressiva e violenta. Fiquei bem assustado, porque aqui onde moro isso de facção está muito próximo", explicou.
A bacharel em Direito e especialista em Segurança Cibernética consultada pelo g1, Poliana Szernek, explica que é preciso uma investigação mais detalhada para entender se a tentativa de golpe aconteceu devido ao comprometimento da base de dados do MEI.
"É uma uma correlação um pouco delicada de fazer. A gente também não pode descartar, mas aí precisaria encontrar outras pessoas que fizeram cadastro no MEI e, logo em seguida, começaram a receber ameaças e tentativas de golpe", comentou Szernek.
O g1 também entrou em contato com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), empresa responsável por soluções tecnológicas para o Brasil, mas não obteve retorno.
Em nota, a Serpro afirmou que as informações sob a guarda são absolutamente seguras e garantidas pelo que há de mais moderno em tecnologia de proteção de dados. No entanto, a Serpro diz que, por uma questão de transparência e interesse público, alguns dados relativos a pessoas jurídicas ficam disponíveis para serem acessados por qualquer cidadão interessado. A pesquisa pode ser feita a partir do número do CNPJ.
A empresa reforça que é bom lembrar que a Lei Geral de Proteção de Dados não alcança os dados de pessoas jurídicas, que não são considerados dados pessoais.
"Quando pessoas de má fé se apropriam de dados públicos para prática de atos ilícitos, é preciso que a vítima abra um boletim de ocorrência e denuncie o crime", afirmou.
Homem se passou por liderança de grupo criminoso
Ainda conforme a fonte explicou ao g1, após os e-mails contendo phishing (quando os criminosos se passam por entidades confiáveis), recebeu um contato por telefone.
Primeiro, o criminoso mandou uma mensagem no WhatsApp da vítima às 23h24 de 16 de agosto e ligou em seguida, como mostram as imagens recebidas exclusivamente pelo g1.
O criminoso, então, enviou um áudio dizendo:
"Opa, boa noite 'macho'. Quem está falando com tu aqui é o Talismã, liderança geral da GDE, Guardiões do Estado (um dos grupos criminosos que opera em Fortaleza). Estou chegando até tu primeiramente numa boa, porque me falaram que tu era trabalhador e cidadão de bem. Trabalhador, cidadão de bem, nós respeita e protege, porque nossa guerra aqui é com o Governo. Chegou uma pessoa aqui chamado Eduardo no meu gerente geral dizendo que te conhece muito bem e que tá sabendo que tu tá fechando aí com a polícia e fazendo denúncia do nosso tráfico. Eu quero saber de tu se isso aí procede, irmão. Tá querendo problema com nós da GDE irmão? Tá querendo perder tua vida? Se tu for inocente, resolve numa boa, pra que não seja preciso que os 'menino' encoste em tu aí agora".
Em nota, a Polícia Civil do Ceará disse que 'apura um caso de ameaça que teria ocorrido em ambiente virtual por meio de um aplicativo de mensagens'.
"A PC-CE reforça a importância do fato ser comunicado por meio do registro de um Boletim de Ocorrência (BO), para que sejam repassadas mais informações. O BO pode ser feito presencialmente, em qualquer unidade policial, ou por meio da Delegacia Eletrônica (Deletron), no site, que atende todo o Ceará, a qualquer hora do dia ou da noite".
A vítima só entendeu que era um golpe quando o criminoso pediu uma quantia de R$ 650,00.
Como exposto na mensagem acima, o golpe consistia em apontar que a vítima havia feito uma denúncia à polícia entregando a facção local e, em seguida, ameaçar e pedir quantias em dinheiro como uma espécie de “ressarcimento” pela denúncia. O jovem foi apontado como um “X9”, gíria que se refere a alguém que é delator.
“O que mais me fez demorar a entender que era golpe é que eles têm esse discurso afiado, agressivo. Passamos dez minutos de ligação com várias ameaças. Disse que se eu desligasse, pessoas iam vir aqui matar minha família. Depois, ele entrou nos assuntos de dinheiro. Chegou a passar uma chave PIX, mas assim que copiei para tentar ver qual o nome da pessoa, ele apagou a mensagem”.
Assim que percebeu a vigarice, a vítima desligou e bloqueou o contato. O suspeito até tentou ligar novamente por outro número, mas o jovem também bloqueou.
Identificando o golpe
Igor Vasconcelos, Delegado Adjunto da Delegacia Metropolitana de Caucaia, afirmou que casos semelhantes estão acontecendo com bastante frequência no estado. "Alguns indivíduos têm se autodenominado integrantes de facções criminosas e têm exigido pagamento de certas quantias para as vítimas. A primeira orientação é não entrar em pânico e comparecer à delegacia da área e registrar o Boletim de Ocorrência (B.O)", disse.
Para formalizar a denúncia, é importante reunir o maior número de informações possíveis, como PIX informado, número de conta, redes sociais utilizadas, número de telefone, entre outros. Esse crime é tipificado como extorsão.
Ainda de acordo com o delegado, é interessante evitar clicar em links que chegam por SMS, desconfiar de contas enviadas com números diferentes em nomes de familiares.
(g1)