Quando uma pessoa entra num carro e assume o controle dos pedais e do volante, o Código de Trânsito exige um determinado comportamento. Se esse comportamento fosse respeitado rigorosamente , haveria menos acidentes e os acidentes seriam menos graves. Mas não é assim que acontece nas ruas e nas estradas do Brasil.
Um motorista ultrapassa os 80 km/h em uma rua onde a velocidade máxima permitida é de 40km/h. Uma infração gravíssima. Esse é um dos registros de uma pesquisa da Universidade Federal do Paraná, que analisou o comportamento de alguns condutores e concluiu que eles desrespeitaram o limite na maior parte do tempo em que o trânsito permitiu.
"Na aproximação do radar há uma redução de velocidade. E à medida que o condutor passa do radar ele retoma essa velocidade. Também situações em que o condutor depois do radar aumenta ainda mais a velocidade, justamente pra tentar compensar a perda de tempo que ele acha que teve com a redução de velocidade na passagem pelo radar", explica Tiago Bastos, professor do Departamento de Transportes da UFPR e do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano.
O estudo mostra que pra cada quilômetro percorrido acima da velocidade permitida, os motoristas economizaram, em média, oito segundos. Em um trajeto de cinco quilômetros. O deslocamento levaria só 40 segundos a mais se o motorista respeitasse o limite de velocidade.
32 motoristas participaram da pesquisa. Cada um foi monitorado por 15 dias por câmeras que gravavam o motorista, o trajeto e a velocidade sempre que o carro era ligado. Foram mil viagens em Curitiba e região metropolitana, e quase 300 horas de gravações.
Um motorista manobra e começa o trajeto sem o cinto, ele só coloca o dispositivo de segurança alguns segundos depois. Condutor e passageiro que deixam de colocar o cinto de segurança, cometem uma infração grave.
O uso do celular também é comum entre os motoristas, mesmo sendo uma infração gravíssima. A pesquisa também calculou a frequência do uso do telefone enquanto os motoristas dirigiam. A cada hora de filmagem analisada, o celular foi utilizado, em média, 14 vezes.
"Em geral os condutores reduzem a velocidade pra usar o celular, ou esperam uma situação de velocidade mais baixa, quando estão parando o carro. Mas nós percebemos que pra enviar mensagem de voz e fazer ligação, os condutores não alteram a velocidade, o que demonstra que eles não estão percebendo esse risco", diz Thiago Bastos.
Mauro Meger é consultor do Observatório Nacional de Segurança Viária, parceiro da pesquisa. O especialista acredita que o levantamento - inédito no Brasil - pode contribuir para políticas públicas.
"A gente tá gerando um estudo pra poder até acompanhar a evolução do que tá acontecendo de modificação no trânsito, e isso cria um histórico que possibilita a gente a avaliar mudanças de comportamento que a gente tenha, e até mudanças que aconteceram na mobilidade que podem ajudar", ressalta.
Para a engenheira ambiental, Mariana Parise, que aceitou o desafio de ser monitorada ao volante, conhecer o comportamento é o primeiro passo para mudar.
"A pesquisa faz com que a gente reflita primeiro sobre a forma como a gente dirige o que a gente pode melhorar e com certeza os resultados vão apontar é costumes que a gente tem que deveriam ser melhorados."
G1