Engajamento de moradores ajuda a enfrentar desafios na comunidade tradicional do Poço da Draga

Ações sociais na comunidade do Poço da Draga envolvem doações de alimentos e brinquedos para as crianças do entorno — Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo pessoal

 

 

Nascida no Poço da Draga, em Fortaleza, Noélia Santos tem alguns eventos certos no calendário: ela organiza o aniversário da comunidade, o festival de quadrilhas juninas, a festa do Dia das Crianças e o Natal. Mas ela pode ser chamada a qualquer momento por alguém que pede ajuda. É quando os moradores articulam uma rede de solidariedade.

As necessidades variam. Uma família com dificuldade para comprar comida, uma pessoa precisando de cadeira de rodas, alguém com problema de saúde. A comunidade chega junto para ajudar como pode, com campanhas de arrecadação que, por vezes, são organizadas por Noélia.

"Eu não posso estar bem se quem está do meu lado não está bem", afirma. Para ela, isso é importante em uma comunidade que historicamente mantém vínculos fortes para resistir coletivamente aos projetos de remoção e às dificuldades estruturais.

O Poço da Draga é uma ocupação centenária de Fortaleza. Ela surgiu com os portuários e pescadores que fizeram moradias em torno da Ponte Velha (antiga Ponte Metálica), que foi inaugurada em 1906 e funcionou como o primeiro porto da capital.

Crescer neste ambiente foi essencial para aprender a importância da mobilização social, conforme Noélia Santos. O pai dela fundou a primeira associação de moradores, que reivindicou, por exemplo, a chegada da água encanada para a comunidade. A família sempre esteve engajada nas ações sociais e nas lutas coletivas.

Formada em Psicologia, Noélia não chegou a atuar profissionalmente porque precisou se dedicar aos problemas de saúde da mãe, que faleceu há pouco mais de um ano. Agora com 51 anos, os cuidados são com o pai. E com uma comunidade inteira.

Solidariedade e mobilização

Além de ajudas pontuais, Noélia Santos se mobiliza para pedir melhorias para a comunidade do Poço da Draga — Foto: Arquivo Pessoal
Além de ajudas pontuais, Noélia Santos se mobiliza para pedir melhorias para a comunidade do Poço da Draga — Foto: Arquivo Pessoal


Já são 24 anos de Noélia à frente da festa do Dia das Crianças, alcançando as famílias do Poço da Draga. Os preparativos começam com cerca de três meses de antecedência. São tempos de buscar patrocínios e doações dos brinquedos que farão a alegria dos pequenos.

Ela também se prepara de longe para o aniversário do Poço da Draga. Os moradores tomam emprestada a data de inauguração da Ponte Velha, no mês de maio. As celebrações chegam com uma semana de atividades, com espaço para mostrar as produções dos artistas locais em diversas linguagens.

De acordo com Noélia, o período é também um convite para que pessoas de toda a cidade possam conhecer o Poço da Draga. Por isso, a programação inclui visitas guiadas com um geógrafo e um morador da comunidade. Oficinas, rodas de conversa e discussões sobre políticas públicas para a região também são incluídas.

“A gente se une em um grupo de voluntários e faz todo ano essa festa, traz as pessoas para conhecerem e mostra o que é o Poço da Draga, os seus artistas, as suas comidas… A gente conversa sobre as ações sociais que podem vir ou que existem dentro da comunidade. E são várias movimentações”, detalha Noélia.

Outro compromisso de Noélia é com a melhoria das condições de vida para além das ajudas emergenciais. Ela, que já foi presidente da associação de moradores, é também membro do Conselho Gestor da Zona Especial de Interesse Social (Zeis) Poço da Draga, espaço de participação popular para decisões que dizem respeito ao território da comunidade.

Vinda de uma família envolvida no trabalho social e na luta pelos direitos do trabalhador, ela considera gratificante a atuação em favor do lugar onde cresceu. Apesar do papel de organizar algumas atividades, Noélia afirma que é apenas uma entre tantas pessoas solidárias no Poço da Draga.

“Uma coisa que é certa e que o pessoal acha que é demagogia, mas não é: quando você ajuda, quem mais ganha é você. Isso dá um sentido na vida, é saber que vale a pena e que é possível melhorar as coisas”, partilha a moradora.

Com uma rede de cooperação e lutas na comunidade, Noélia acredita na contribuição que cada um pode trazer para melhorar a vida de quem está próximo, a curto e longo prazo.

 

 

(g1)

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