Especialista alerta para sintomas da leptospirose e cuidados no Ceará

 



A leptospirose é uma doença infecciosa aguda transmitida a partir da exposição à urina de roedores, principalmente ratos, infectados pela bactéria Leptospira. Geralmente, manifesta-se de forma inespecífica, com sintomas como febre e dor de cabeça, e pode evoluir para sintomas mais característicos, como dor muscular muito intensa (por vezes concentrada na região da panturrilha), náusea e vômito.

A sua ocorrência está relacionada às condições precárias de infraestrutura sanitária e alta infestação de roedores infectados. A enfermidade possui um grande espectro, podendo desenvolver desde casos mais leves, sem grandes intercorrências, até casos mais graves que podem levar o paciente à morte.

Transmissão

Conforme Carlos Garcia, orientador da Célula de Vigilância e Prevenção de Doenças Transmissíveis e Não Transmissíveis da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), a forma mais comum de transmissão da doença é o contato com água ou lama contaminada de enchentes.

"Por conta da própria característica do Ceará, de ter períodos de maior seca e ter chuvas mais concentradas, geralmente a doença ocorre com mais frequência nessa época, de enchentes, às vezes cursos d'água que estavam secos e começa a correr a água", explica o especialista.

Os roedores, principalmente o rato, é um hospedeiro da doença. Por meio da urina, o microrganismo acaba infectando a água e a lama.

"Quando há enchente, temos mais contato com esse meio, principalmente se a pessoa tem uma lesão nos pés ou nas mãos. Mas também pode ser na mucosa, dos olhos. Por isso, alertamos muito sobre o uso de botas e de luvas, se estiver em algum local onde ocorreu uma enchente ou um alagamento", detalha o médico.

Tratamento

Os casos mais leves são tratados ambulatorialmente, sem necessidade de internação. Mas, por ser uma doença que pode evoluir rápido com gravidade, os pacientes geralmente ficam em observação ou podem ser internados.

De acordo com Carlos Garcia, o tratamento da doença é feito com antibióticos. Caso a pessoa infectada apresente outras alterações, como insuficiência renal, terá de fazer a hemodiálise, para tentar intervir nas complicações do quadro.

"Além do antibiótico, há o tratamento de suporte com hidratação, diálise (se houver insuficiência renal), ou se precisar de suporte ventilatório, UTI, mas o específico são os antibióticos. É preciso tratar nos momentos mais iniciais da doença para evitar que ela evolua com maior gravidade", pontua o profissional.

Sintomas

A leptospirose é uma doença aguda, em que a maioria das pessoas vai apresentar apenas sintomas leves, mas alguns pacientes podem evoluir com sintomas mais graves e chegar a óbito. (Veja descrição abaixo)

  • Febre;
  • Falta de apetite;
  • Dor muscular (principalmente na panturrilha);
  • Dor de cabeça;
  • Náuseas/Vômitos;
  • Diarreia;
  • Calafrios.

Segundo o Ministério da Saúde, nas formas graves, a manifestação clássica da leptospirose é a síndrome de Weil, caracterizada pela tríade de icterícia (tonalidade alaranjada muito intensa - icterícia rubínica), insuficiência renal e hemorragia, mais comumente pulmonar, além de sintomas relacionados ao sistema nervoso central.

"Como os sintomas iniciais são inespecíficos, como febre, dor de cabeça e náusea, é importante que, durante esse período de chuva, o paciente procure o serviço de saúde e informe que teve contato com enchente ou lama recentemente. Por vezes, o profissional nem pensa nessa hipótese e não solicita o exame específico para diagnóstico e trata como um quadro mais geral”, pondera Carlos Garcia.

No geral, é definida como uma doença breve, em que os sintomas duram de uma a duas semanas. Na maior parte dos casos, a melhora do quadro vai ser espontânea.

Prevenção

A prevenção da doença acontece, principalmente, a partir do controle de roedores. O Ministério da Saúde recomenda evitar o contato com água ou lama de enchentes e impedir que crianças nadem ou brinquem nessas águas. Pessoas que trabalham na limpeza de lama, entulhos e desentupimento de esgoto devem usar botas e luvas de borracha (ou sacos plásticos duplos amarrados nas mãos e nos pés).

Para o controle dos roedores, indica-se acondicionamento e destino adequado do lixo, armazenamento apropriado de alimentos, desinfecção e vedação de caixas d'água, vedação de frestas e aberturas em portas e paredes, etc. O uso de raticidas (desratização) deve ser feito por técnicos devidamente capacitados.

Cenário da doença no Ceará

Conforme o orientador da Sesa, o Ceará registrou, nos últimos anos, uma média de 90 a 100 casos de leptospirose por ano. Já os óbitos em decorrência da doença, a média é de 5 a 9 casos anuais.

Em 2024, foram registrados 72 pacientes infectados e 4 mortes no Estado. Em 2025 (com dados levantados até 25 de abril), foram 16 casos de leptospirose e nenhum óbito.

Dez dos 16 casos foram de pacientes residentes na Capital. Os outros 6 foram registrados nos municípios de Caucaia (com 2 casos), Boa Viagem (1), Limoeiro do Norte (1), Pereiro (1) e Massapê (1).

Houve ainda pelo menos cinco hospitalizações por conta do agravamento da doença entre janeiro e fevereiro deste ano, de acordo com dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS), do Ministério da Saúde.

"Geralmente, vemos mais casos nas regiões mais populosas e, principalmente, na população urbana. A região de saúde de Fortaleza registra uma concentração maior de casos devido à maior população e por receber muita chuva, estar mais próxima do mar, tem condições propícias", explica Carlos Garcia.

Hospital de referência para tratamento da doença

Ao apresentar os primeiros sintomas, é comum o paciente procurar a unidade básica de saúde ou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

No entanto, os casos que possuem uma tendência maior de gravidade ou sinais de complicação da doença devem ser encaminhados para o Hospital São José, unidade referência estadual para o tratamento de doenças infecciosas.




(Diário do Noredeste)

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