O Ceará é referência nacional quando o assunto é educação. Mas, quando se volta o olhar para a saúde pública, especialmente no uso das Práticas Integrativas e Complementares (PICs) no SUS, o estado amarga o último lugar no ranking nacional. A pergunta é: por que essa visão de saúde tão limitada, cuidando-se de doença e de sintomas, em detrimento da prevenção, da saúde das pessoas?
Vivemos em um território de saberes ancestrais, onde a cultura popular é rica e resiliente, a natureza favorece o bem-estar e a alegria é um traço da identidade coletiva. Mas, nossa política de saúde insiste em ignorar essa potência. Enquanto alguns estados nordestinos ampliam o acesso às PICs (acupuntura, meditação, fitoterapia, reiki, automassagem e auriculoterapia), o Ceará permanece à margem de um movimento mundial que busca cuidar do ser humano de forma integral.
As PICs não disputam espaço com a medicina convencional, promovem saúde antes que a doença se instale, oferecendo acolhimento, prevenção e cuidado contínuo. A própria OMS recomenda sua adoção como política pública. Países desenvolvidos já as integram em seus sistemas de saúde com ótimos resultados.
Ignorar essas práticas é optar por um modelo ultrapassado, centrado em remédios, exames e internações, que não dá conta da complexidade do sofrimento humano atual, marcado por estresse, ansiedade, tristeza crônica e desconexão emocional. O cuidado com a saúde vai muito além da prescrição médica.
A baixa adesão às PICs aqui não se deve à falta de profissionais, nem de conhecimento técnico. O que falta é vontade política, investimento institucional e, sobretudo, a superação de preconceitos ainda enraizados contra formas de cuidado que não se encaixam nos moldes da indústria farmacêutica. Isso tem um custo: vidas adoecidas, sobrecarga no sistema e oportunidades perdidas de promover o bem-estar.
Temos já o que é preciso: tradição, clima favorável, profissionais capacitados e uma população receptiva. Falta decisão, reconhecer que saúde não é só ausência de doença, mas presença de alegria, equilíbrio e qualidade de vida. Como já fazemos com a educação, precisamos também assumir o protagonismo no cuidado com a saúde, que não é só hospital, mas um modo de viver.
DN