Cordão de ouro de líder do PCC morto no Ceará 'some' e Justiça ordena devolução à família

 




Uma joia de um dos líderes da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) morto no Ceará em 2018 está "desaparecida". O cordão de ouro encontrado no corpo de Fabiano Alves de Sousa, o 'Paca', é reivindicado pela família da vítima há sete anos, tendo a Justiça já decidido que o objeto deve ser restituído aos parentes.

No entanto, meses após a última decisão para que o objeto fosse devolvido, a família de 'Paca' não recebeu o escapulário. Conforme documentos obtidos pela reportagem, no Poder Judiciário consta que a devolução está pendente de efetivação. No entanto, a Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco) disse em um ofício anexado ao processo que o escapulário foi entregue ao Setor de Distribuição do Fórum de Aquiraz. 

Já a Secretaria da Vara disse em 2019 que em 2018 o objeto foi entregue à Perícia Forense do Ceará (Pefoce). O Diário do Nordeste procurou o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), Polícia Civil do Ceará (PCCE) e a Pefoce a fim de saber onde está a joia.

O Tribunal disse em nota que "no último dia 27 de junho, a Secretaria da Vara Única Criminal de Aquiraz expediu ofício para a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) requerendo a entrega do terço para a família. Também solicitou que após a entrega do objeto, a Draco envie para a Vara o termo de recebimento do terço".

"Certifico, para os fins que se fazem devidos, que em contato com o Delegado Dr. Harley Alencar Alves Filho, foi informado que o bem objeto do presente pedido de restituição (terço em ouro encontrado junto ao corpo de uma das vítimas) foi encaminhado à Pefoce em 27.04.2018 através do ofício nº 391-2018-S, para fins de elaboração de laudo de constatação e avaliação e não teve retorno até a presente data", segundo trecho do despacho.

[Atualização: 02/07/2025, às 10h11] Após a publicação da matéria, a Polícia Civil do Ceará enviou nota em que "informa que todos os bens, após apreendidos, passaram pela Perícia Forense, retornando posteriormente à Delegacia de Repressão às Organizações Criminosas Organizadas (Draco), onde se encontram para restituição à família de um homem morto no dia 15 de fevereiro de 2018 em Aquiraz, Área Integrada de Segurança 1 (AIS 1)".

A Perícia Forense do Ceará não respondeu aos questionamentos da reportagem até a edição desta matéria.

JOIAS DE ALTO VALOR

A informação é que quando assassinados em uma reserva indígena em Aquiraz, em fevereiro de 2018, 'Paca' e Rogério Jeremias de Simone, conhecido como 'Gegê do Mangue', usavam objetos de alto valor, como relógios e braceletes. 

No caso da família de Gegê, eles pediram em 2018 apenas a aliança alegando valor sentimental. Enquanto os parentes de 'Paca' conseguiram a devolução de uma aliança e tentam ver novamente o escapulário.

O cordão de ouro se trata de um terço, feito de bolinhas douradas e pretas.

O pedido partiu dos filhos e da esposa de Fabiano Alves. Conforme requerimento feito em São Paulo e enviado aos juízes da Comarca de Aquiraz que atuam no processo, a família alega 'valor sentimental'. 

DUPLO HOMICÍDIO

O duplo homicídio de 'Gege' e 'Paca' foi tratado inicialmente como achado de cadáveres sem identificação. Dias depois, os parentes reconheceram os corpos e a Polícia começava a obter as primeiras informações sobre a estadia da 'cúpula do crime organizado' no Ceará. 

As vítimas embarcaram em um helicóptero, pilotado por Felipe Ramos e com a presença de demais membros do PCC. De acordo com entrevistas concedidas pelo promotor do Ministério Público de São Paulo, Lincoln Gakiya, a dupla foi morta a mando da cúpula da facção paulista.

As investigações levantaram informações que 'Gegê' e 'Paca' podem ter roubado a própria organização criminosa, ao desviar milhões de reais provenientes do tráfico de cocaína. As mortes teriam servido de lição aos demais faccionados.

Nos dias seguintes aos assassinatos, um bilhete apreendido por agentes na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista, começava a revelar que o crime era premeditado e tinha um porquê.

"Ontem, fomos chamados em umas ideias, aonde nosso irmão Cabelo Duro deixou nois ciente que o Fuminho mandou matar o GG e o Paka. Inclusive, o irmão Cabelo Duro e mais alguns irmãos são prova que os irmãos estavam roubando (sic)", dizia o bilhete.

O duplo homicídio iniciou uma guerra interna no grupo. Uma semana depois, mais uma execução. Wagner Ferreira da Silva, o 'Cabelo Duro' citado no bilhete apreendido em Venceslau, e que teria participado diretamente das mortes de 'Gegê' e 'Paca', foi morto com tiros de fuzil em um ataque realizado na porta de um hotel, na região da Zona Leste de São Paulo.

Ao todo, 10 pessoas foram denunciadas por participação no caso, sendo que sete foram pronunciados. Segundo a Justiça do Ceará, um faleceu durante a tramitação do processo, um está foragido e o outro, que havia sido impronunciado, teve a denúncia aditada e o processo seguirá em fase de instrução.

Ainda conforme o TJCE, o processo já conta com mais de 9 mil páginas, mas foi desmembrado para dar maior celeridade ao julgamento. Sete réus foram pronunciados pelo crime e desde então recorrem no Judiciário.




(Diário do Nordeste)

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