Em três dias, 80 faccionados em liberdade são presos em operações policiais no Ceará

 

Uma coletiva de imprensa da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) divulgou o balanço da quinta fase da operação Nocaute
Uma coletiva de imprensa da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) divulgou o balanço da quinta fase da operação Nocaute / Crédito: Divulgação/PC-CE

Entre a madrugada da terça-feira passada, 19, e dessa quinta-feira, 21, o total de 80 pessoas suspeitas de integrarem as facções criminosas Guardiões do Estado (GDE) e Comando Vermelho (CV) foram presas em três operações policiais seguidas no Ceará. Outras 58 que já estavam reclusas em unidades prisionais, também alvos das ações, tiveram mandados de prisão cumpridos pela Polícia Civil do Ceará (PC-CE).

Somando as operações, 138 pessoas foram presas a partir de mandados de prisão, em flagrante e prisões interestaduais. As ações tiveram início nas primeiras horas da madrugada da terça-feira, quando uma operação comandada pelo Departamento de Polícia da Capital prendeu seis pessoas da GDE, em Fortaleza.

Na madrugada do dia seguinte, a Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco) cumpriu 88 mandados de prisão contra integrantes da GDE por meio da quinta fase da Operação Nocaute. Foram presas 43 pessoas que estavam em liberdade e os outros 45 já estavam no sistema prisional. Entre eles, houve três prisões interestaduais nos estados do Maranhão, Piauí e Distrito Federal.

No terceiro dia consecutivo, duas operações foram realizadas, uma na região Sul e outra no Norte do Ceará contra membros do Comando Vermelho (CV). Foram 26 mandados de prisão cumpridos e um flagrante realizado no Sul do Estado.

As capturas foram realizadas em Iguatu, Juazeiro do Norte, Russas e em Fortaleza por meio do 4° Departamento Seccional de Iguatu, com apoio do Departamento de Polícia do Interior Sul (DPI/Sul).

No Norte do Estado, 17 mandados de prisão foram cumpridos, sendo que sete deles contra pessoas que já estavam presas. Sete pessoas foram presas no município de Bela Cruz e outras três na cidade de Castelo do Piauí (PI). As ofensivas foram realizadas pelo Departamento de Polícia do Interior Norte (DPI/Norte).

Em todas as operações, foram apreendidas armas de fogo, munições, entorpecentes, entre maconha, cocaína e crack, e aparelhos celulares, que serão periciados com objetivo de extrair dados que possam auxiliar na identificação de mais pessoas envolvidas nos grupos e atuação das organizações criminosas.

Conforme o titular da Draco, delegado Thiago Salgado, que esteve à frente em uma das operações, os presos estão relacionados, principalmente, por suspeitas de cometerem crimes graves, como homicídios, e por liderar organizações criminosas. “Foram diversas prisões que julgo relevantes porque todas dentro desse contexto de crimes graves, que têm repercussão”, disse.

Ainda segundo o delegado, no primeiro semestre do ano passado, a delegacia especializada prendeu 124 pessoas suspeitas ligadas direta ou indiretamente com o crime organizado. Neste ano, o número quase triplicou em relação ao ano passado. Foram 318 prisões. A quantidade representa aumento de 137% de prisões da Draco no primeiro semestre em comparação ao ano passado.

O coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (Lev), da Universidade Federal do Ceará (UFC), o pesquisador Luiz Fábio Paiva, destaca que, ao longo do tempo, foi observado que as facções são resilientes e que, apesar do alto número de prisões, elas continuam a funcionar e até expandir.

“Existem prisões, mas os mecanismos que possibilitam que essas facções continuem existindo, expandindo e atuando no Ceará, continuam intactos. [...] Outro elemento da prisão problemático é que, muitas vezes, esses grupos são grupos de origem prisional, então, eles sabem também atuar no interior das prisões, eles sabem ser resilientes a esse processo de aprisionamento”, analisa o pesquisador.

De acordo com o secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Roberto Sá, o resultado das operações estão atreladas aos esforços do Estado em reduzir os índices de criminalidade. “Entre janeiro e julho, já são 1.668 presos por assassinato e 1.131 por envolvimento com organizações criminosas”.

Ainda segundo Sá, “somente no mês de julho de 2025, houve um aumento de 60% nas prisões de pessoas que cometeram Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs)”. No mesmo mês, afirma que teve um crescimento de 90% nas prisões relacionadas a organizações criminosas.

Investigações revelaram esquemas de captação de criminosos, lavagem de dinheiro e atuação de líder

As investigações que resultaram nas prisões dos suspeitos revelaram esquemas de captação de novos membros da facção criminosa GDE, como atuavam na lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas e atuação de uma liderança do CV na cidade de Bela Cruz.

Em uma das operações, as investigações revelaram que um grupo de mensagem funcionava como uma espécie de Recursos Humanos (RH) da GDE. No local, foram identificados “currículos do crime” enviados por suspeitos que queriam integrar a organização.

Os currículos possibilitaram a identificação de integrantes da facção alvos do cumprimento de 88 mandados de prisão na operação Nocaute. O titular da Draco, Thiago Salgado, explica que o grupo funcionava no WhatsApp e era utilizado para a inscrição de novos membros.

Os interessados em aderir à facção preenchiam um “cadastro do crime” informando dados como nome, apelido, área de atuação, ou seja, a cidade e o bairro, padrinho dentro da facção e tempo no crime. Após realizar a inscrição para integrar a facção, os suspeitos passavam por alguns superiores da GDE, que avaliavam ou não o ingresso desses indivíduos.

Entre os presos na operação no Sul do Estado, as investigações revelaram que as mulheres presas ocupavam posições estratégicas no CV na região, como gerência operacional e, principalmente, controle financeiro.

O POVO apurou com uma fonte policial que, entre as atividades, elas seriam responsáveis por recolher os lucros das “bocas de fumo”. Além disso, comerciantes estariam usando suas empresas para lavagem de dinheiro em Iguatu e Fortaleza.

Na região Norte, uma liderança do CV em Bela Cruz, identificado como "K9", de 38 anos, preso no Piauí, liderava o grupo de outro estado. Investigado há mais de um ano, foi revelado que ele ordenava torturas e homicídios contra membros de facções rivais em Bela Cruz com objetivo de dominar mais áreas para o tráfico de drogas.

Confira o balanço das operações:

Terça-feira, 19
Seis prisões

Quarta-feira, 20
88 mandados de prisões e flagrante
43 em liberdade
45 recolhidos em unidades prisionais

Quinta-feira, 21
27 mandados de prisões e prisões em flagrante
21 em liberdade
5 recolhidos em unidades prisionais

 

O Povo 

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