A Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) foi alertada no dia 4 de agosto sobre o risco de um atentado na Escola Estadual Luís Felipe, em Sobral, onde dois adolescentes foram mortos a tiros nesta quinta-feira (25).
A informação foi repassada pela ONG Visão Mundial, que solicitou no documento "máxima urgência e atenção ao caso", pois um estudante da instituição estava em perigo em razão de conflitos envolvendo facções criminosas. Por meio de nota (íntegra no final do texto), a Seduc pontuou que o "suposto alerta enviado por uma ONG (...) tratava sobre outro estudante, que não esteve envolvido nesse episódio de violência".
Sobre o aluno em questão citado pela ONG e que não foi vítima do crime, Reginaldo Silva, Gerente Nacional de Advocacy e Participação de Crianças e Adolescentes da Visão Mundial, informou ao Diário do Nordeste que o aluno chegou a faltar aulas por medo de sofrer um atentado.
"Solicitamos, com a máxima urgência e atenção que o caso requer, o apoio dessa Secretaria para que seja possibilitada a transferência imediata do estudante para a unidade indicada, ou outra que ofereça as mesmas condições de segurança e continuidade do processo educacional”
O aluno citado pela ONG ameaçado mora no bairro Nova Caiçara, em Sobral, dominado por uma facção rival à que domina o bairro Campo dos Velhos, onde fica a Escola Luís Felipe. "Existia uma ameaça por conta dos grupos criminoso de que, se moradores do Novo Caiçara viessem para a aula, eles iam atirar", relata Reginaldo.
O jovem não foi um dos que morreu ou ficou ferido no ataque a tiros desta quinta. Entretanto, segundo informações da ONG, um dos adolescentes mortos é morador do Nova Caiçara e também sofreria com o conflito entre organizações criminosas.
Em nota enviada nesta sexta-feira (26), a Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) informou ainda que "a Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede) da área tem tratado da referida solicitação, seguindo os trâmites necessários".
Atentado poderia ter sido evitado, diz ONG
Reginado Silva defende que as mortes poderiam ter sido evitadas, e relembra que quando procurou a Seduc, foi direcionado a um contato da Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede) 5, responsável pela escola. Ele solicitou que o estudante fosse transferido para evitar uma violência, mas não houve acordo.
De acordo com o Gerente Nacional da ONG, a Crede 5 ofereceu mudar o estudante para o turno da noite ou colocá-lo em uma escola profissionalizante, mas ele não tinha passado na prova de transferência. Eventualmente, ele teve de retornar, com medo, à Escola Luís Felipe.
"A própria família do adolescente disse que foram na escola informar dos riscos", aponta.
Para Reginaldo, "o Governo do Estado deveria ter feito um protocolo de segurança, já que existia a informação desse possível atentado".
Após o crime na escola, a ONG Visão Mundial busca atender adolescentes afetados por meio de parcerias com entidades, e prometeu acionar novamente a Seduc. Conforme ele, há um mapeamento de cerca de 10 estudantes moradores da área de conflito de facções que estão com medo de voltar às aulas.
Aulas suspensas
A Seduc lamentou o ataque a tiros e informou que os estudantes foram liberados das aulas nesta quinta e nesta sexta-feira (26): "A comunidade escolar também contará com o suporte de profissionais de psicologia da Coordenadoria Regional no retorno às aulas, a partir de análise da escola e da própria Crede".
"A Seduc tem reforçado, constantemente, ações visando a segurança do ambiente escolar, tanto em termos físicos quanto psicológicos", concluiu a pasta.
Leia nota da Seduc-CE na íntegra
A Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) informa que, sobre suposto alerta enviado por uma ONG a respeito do caso de violência ocorrido em escola de Sobral, o documento enviado pela entidade, na verdade, tratava sobre outro estudante, que não esteve envolvido nesse episódio de violência. São situações diferentes.
Sobre o estudante mencionado no ofício, a Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede) da área tem tratado da referida solicitação, seguindo os trâmites necessários.
A proteção e o bem-estar dos nossos estudantes são prioridades permanentes da rede pública estadual de ensino. Seguimos atuando em parceria com as famílias, comunidades escolares e demais órgãos competentes para assegurar um ambiente de aprendizagem seguro e acolhedor.
(Diário do Noredeste)