Justiça do Ceará decidiu revogar o monitoramento eletrônico e a prisão domiciliar da advogada Wanessa Kelly Pinheiro Lopes, acusada de se aliar a um traficante de cocaína e manter envolvimento com a facção criminosa carioca Comando Vermelho (CV).
A defesa da ré pediu a flexibilização da prisão domiciliar. O Ministério Público do Ceará (MPCE) foi contra o pedido, mas os juízes da Vara de Delitos de Organizações Criminosas entenderam que não existem mais motivos para manter a medida cautelar.
A determinação é que o monitoramento eletrônico seja encerrado e Wanessa entregue a tornozeleira à Secretaria da Administração Penitenciária (SAP). A defesa da acusada não foi localizada pela reportagem.
"Observa-se que desde o início da medida imposta à acusada não há notícias de que ela tenha voltado a delinquir, assim como que não foi noticiada qualquer violação injustificada na fiscalização da medida de prisão domiciliar sob uso de monitoramento eletrônico. Dessa forma, as circunstâncias do caso em análise, aliadas à condição da requerente, sobretudo pelo comprimento da medida qualquer violação injustificada, indicam que os motivos para a manutenção medida cautelar de monitoramento eletrônico não mais subsistem"
No início deste mês de outubro, o Diário do Nordeste noticiou uma outra decisão relacionada a este processo. A de que a Justiça negou devolver os celulares da advogada.
Os magistrados disseram constatar que a denunciada sequer comprou "de forma satisfatória a procedência lícita da aquisição dos bens apreendidos".
Wanessa teria se valido da advocacia para integrar o grupo e se aliar a um traficante da fronteira entre Brasil e Bolívia. A Polícia chegou ao nome da advogada a partir de uma investigação iniciada no ano de 2021.
O Ministério Público do Ceará aponta que Wanessa "atuava facilitando a comunicação entre indivíduos soltos e reclusos no sistema penitenciário, além de efetuar diversas transações financeiras com membros da referida orcrim".
A advogada foi presa no Ceará em 2023, alvo da Operação Sarmat e sob suspeita de praticar o tráfico interestadual de drogas.
Na época, a mulher foi apontada pela Polícia Civil do Ceará como responsável pelo envio de grande quantidade de cocaína da região do Norte do Brasil para o Ceará.
Os passos de Wanessa Kelly Pinheiro passaram a ser seguidos pelos investigadores. Na apuração, a Polícia verificou que a investigada está cadastrada junto ao Sistema Penitenciário como “companheira” de José Glauberto Teixeira do Nascimento, o 'Gleissim'.
Glauberto é apontado como líder de uma facção carioca e nome conhecido na Segurança Pública do Ceará.
O homem tem extensa ficha criminal, incluindo organização criminosa, tráfico de drogas (já sendo preso pela Polícia Federal em posse de mais de 30 quilos de pasta base de cocaína), ataque a carro-forte e é suspeito de comandar rebeliões em presídios.
As visitas de Wanessa a Glauberto se tornaram frequentes. Só em outubro de 2022, ela teria ido a uma unidade prisional nove vezes, ao encontro do suposto companheiro.
Além de 'Gleissim', a advogada já teria visitado um outro membro da facção carioca, conhecido no Ceará: Max Miliano Machado da Silva, conhecido como `Lampião`.
De acordo com a investigação da Polícia Civil do Ceará, a relação entre Max Miliano e Wanessa ia além de um trato entre cliente-advogado. "A análise do relatório permite concluir pela existência de indícios de utilização de serviços ilícitos prestados por advogado(s) a integrantes da facção criminosa CV, mais especificamente em relação à facilitação de comunicação (envio de recados/mensagens de interesse da organização criminosa) entre os indivíduos reclusos e os que estão em liberdade", afirmam os policiais sobre os bastidores dos encontros.
Consta ainda nos documentos que os depósitos e transferências bancárias para Helder Paes são recentes, ainda do último ano de 2022, indicando que "o investigado permanece praticando a atividade criminosa, remetendo imensurável quantidade de cocaína para o Estado do Ceará, tendo como um de seus “depositantes” a investigada Wanessa Kelly".
DN