Sobral recebeu pelo menos dez novos projetos e ações de prevenção à violência escolar após tragédias

 Na ocasião, cinco alunos da Escola de Ensino Médio (EEM) Professor Luis Felipe, em Sobral, foram atingidos

Entre 2022 e 2025 Sobral registrou dois episódios de violência em escolas públicas, levando município e Estado a prometeram uma série de medidas para garantir a segurança de unidades de ensino da cidade. Desde a primeira ocorrência até outubro de 2025, pelo menos dez novas ações desse porte foram realizadas.

A primeira ocorrência foi registrada na Escola de Ensino Médio Professora Carmosina Ferreira Gomes, localizada no bairro Sumaré. Na ocasião, um adolescente de 15 anos, aluno da 1ª série, atirou em três alunos na sala de aula, utilizando a arma de um colecionador, atirador desportista ou caçador (CAC). 

Uma das vítimas não resistiu aos ferimentos e morreu. Durante depoimento aos agentes de segurança, o estudante que cometeu o ataque confessou ter premeditado ação após ter sido vítima de bullying.

O caso chocou o País, repercutindo nacionalmente e levando Prefeitura e Estado a planejarem ações para prevenir novas tragédias. Entre intervenções que na época foram noticiadas à imprensa estavam: reforma da estrutura da escola (incluindo o aumento dos muros), aplicação de metodologias de prevenção e resolução de conflitos e a instalação de câmeras de segurança em unidades da rede municipal. 

Pouco antes do caso completar três anos, no entanto, a cidade, referência nacional em educação, retornou aos noticiários com um caso de violência escolar. Em setembro último, dois homens atiraram contra alunos da escola Professor Luis Felipe, em Campo dos Velhos, por meio do gradil do estacionamento. 

Morreram na ação os adolescentes Victor Guilherme Sousa de Aguiar, 16, e Luiz Cláudio Sousa Oliveira Filho, 17. Outros três ficaram feridos. Toda a comunidade escolar ficou abalada, mais uma vez. 

As duas instituições de ensino onde os crimes foram registrados são estaduais. De acordo com informações da Secretaria de Educação do Ceará (Seduc), após a ocorrência registrada em 2022 a escola Professora Carmosina Ferreira Gomes passou por intervenções, recebendo mudanças em sua infraestrutura. 

Como prometido na época, a entidade recebeu obras de melhoria da quadra, teve o muro aumentado e a sala de aula onde ocorreu o episódio foi transformada em um Laboratório de Matemática, segundo a pasta. 

Já na Professor Luís Felipe, onde o segundo caso aconteceu, as aulas retomaram progressivamente na segunda-feira, 6 de outubro, após um período de suspensão. A unidade recebeu "atividades de reflexão e integração, conduzidas pelos docentes, professores diretores de turma, psicólogos e assistentes sociais", buscando "oferecer apoio emocional e fortalecer um ambiente de proteção e cuidado”.

A Seduc também havia anunciado o reforço da segurança na escola, por meio do Comando de Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac), da Polícia Militar e da Guarda Municipal. Ideia é que equipes passem a estar presentes no entorno da instituição de ensino e que façam visitas periódicas à unidade.

Conforme Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), no primeiro semestre deste ano o grupo de Segurança Escolar (GSE), vinculado ao Copac, fez mais de 200 ações em escolas de Sobral. 

Além disso, o Estado adotou medidas para todas as unidades da rede. Em 2023, por exemplo, lançou uma cartilha de orientações para prevenção e combate à violência no ambiente escolar, por meio das secretarias da Segurança Pública e da Educação. Governo também implementou iniciativas de combate ao bullying e de acompanhamento técnico e psicossocial, como o Projeto Mais Papo, Mais Atitude.

Novas medidas estaduais adotadas desde 2022:

  • Acompanhamento técnico e psicossocial;
  • Projeto “Conexões Pacíficas" (metodologia de prevenção de conflitos);
  • Atendimentos voltados ao combate ao bullying e à violência;
  • Melhoria da infraestrutura da escola Professora Carmosina Ferreira;
  • Lançamento de uma cartilha de orientações para prevenção e combate à violência na escola;
  • Criação do Projeto Mais Papo, Mais Atitude, que aborda temas relacionados à saúde mental, convivência e respeito mútuo.

O Estado conta com outras medidas, como as Comissões de Proteção e Prevenção à Violência contra a Criança e o Adolescente, autorizada em 2020. Fora as ações que estão ou já foram aplicadas, Seduc elabora um plano emergencial de gestão de crise no ambiente escolar, junto ao Ministério Público (MPCE).

Desde o primeiro caso a rede municipal de Sobral também adotou ações de prevenção. Conforme a Secretaria Municipal de Educação (SME), cerca de 60% das unidades municipais da área têm câmeras atualmente. Outras iniciativas foram tomadas neste ano de 2025, segundo Cynira Kézia, titular da pasta.

Ela frisa que nos últimos meses teve início uma formação de segurança escolar, que instrui alunos e corpo docente sobre como agir em caso de ataque. Além disso, escolas recebem treinamento sobre primeiros socorros e rodas de conversa sobre bullying, com apoio de orientadores educacionais e psicólogos. 

Após o caso registrado em setembro recente, a rede municipal passou a contar com um sistema piloto de segurança inteligente. Por recorte de vulnerabilidade, a escola municipal José Parente Prado foi a escolhida para ser a primeira a portar o modelo, no ínicio deste mês. Projeto conta com uso de leitura biofacial dos alunos e com um botão de pânico, que permite resposta mais rápida dos órgãos de segurança. 

Novas medidas municipais adotadas desde 2022:

  • Implantação de câmeras nas escolas, incluindo um projeto piloto de monitoramento;
  • Formação de segurança escolar para alunos e colaboradores;
  • Treinamento de primeiros socorros para colaboradores; 
  • Rodas de conversa sobre bullying e outras temáticas e escuta ativa com orientadores educacionais e psicológicos, exercendo função de rede de apoio.

De acordo com Cynira, secretaria prepara outros projetos como uma escolinha de esporte. "De uma forma geral, nós precisamos olhar pras nossas crianças, todos nosso alunos, com olhar diferenciado, olhar mais humanizado (...) Precisamos trazer mais amor as crianças, trazer mais segurança", diz a secretaria.

"A nossa maior missão é a prevenção. Escola tem que ser um lugar seguro pra eles (alunos) aprenderem (...) O que a gente quer muito é prevenção, que essa tragédia nunca mais aconteça nesse município, mas se acontecer esse episódio, que estejamos preparados", completa. 

Se somados ações e projetos citados por Estado e município ao O POVO, foram realizadas pelo menos 11 novas ações de prevenção escolar na cidade desde outubro de 2022, quando o primeiro caso ocorreu, sem considerar aquelas que já haviam sido implantadas e foram intensificadas. 

Iniciativas precisam ser contínuas, analisa especialista

Os casos de violência registrados em 2022 e 2025 são de naturezas diferentes. Enquanto o primeiro foi provocado por um aluno, que confessou ter por motivação o bullyng, o segundo foi por índividuos de fora da escola e, segundo apontam investigações, estaria relacionado a rivalidades entre grupos criminosos. 

De acordo com Ricardo Moura, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV-UFC), há duas organizações criminosas atuando em Sobral. Presença de facções na região, segundo analisa o especialista, pode gerar risco, violência e casos de insegurança.

"É importante haver uma apropriação da comunidade no entorno da escola. A escola ela precisa ser vista como um espaço relevante para a comunidade, e isso também sinaliza para o crime que ali é um espaço que deveria ser garantido a proteção de alunos e (dos) professores. Acredito que esse (último) episódio pode vir a ser um isolado, mas é preciso que haja uma revisão nesse acesso dos alunos a escola, que haja uma presença grande da comunidade na escola", destaca.

Sobre ações realizadas, Moura defende que elas precisam ser contínuas: "Sobral é um município que é referência em termos de qualidade de ensino e então, é um município que também pode vir a ser referência na questão da segurança dos alunos a partir dessa tragédia (...) A gente fica na expectativa de que essas ações possam ser implementadas, que possam ter continuidade e que de alguma forma elas consigam dar um suporte de segurança para a comunidade escolar".

O Povo

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