O Hospital de Messejana em Fortaleza que é referência em transplantes
de coração sofre com a falta de material e suspendeu cirurgias. Uma
mulher que prefere não se identificar veio de outro estado para o Ceará
em busca de um transplante de coração para o marido.
Ele sofre de uma doença que causa danos ao músculo cardíaco. Desde
setembro já apareceram doadores compatíveis. Mas, ele não pôde receber
um coração novo, porque o Hospital de Messejana estava sem os materiais
necessários para o transplante. “É uma decepção muito grande. O mais
difícil é a família doar e teve quatro doações de órgãos perfeitos”,
conta.
O hospital foi pioneiro e é referência em transplantes de coração e
outras cirurgias cardíacas. Mas segundo médicos e funcionários - que não
querem se identificar - as operações estão suspensas há quase duas
semanas, por falta de materiais básicos.
O problema está documentado num relatório do setor de enfermagem que
aponta a falta de medicamentos usados em anestesia, sedação, controle de
pressão arterial e analgésicos. De acordo com a lista, também faltam,
no centro cirúrgico, itens como cateter, dreno, fio de sutura e sonda.
Com a suspensão das cirurgias, os corredores do hospital ficaram
lotados. A filha de uma paciente que espera por um cateterismo e
implantação de stent gravou este vídeo com outras pessoas na mesma
situação.
“Meu pai tá aqui há um mês e dez dias pra fazer uma cirurgia de marca
passo. não fez porque não tinha material e agora já pegou duas vezes
infecções aqui dentro do hospital”, conta a filha de um paciente. “Os
pacientes estão comprando remédio. Poque não tem remédio pra controlar
pressão, pra coração. tá faltando aqui no hospital”, complementa.
Manifesto dos cardiologistas
A situação levou os cardiologistas a divulgarem este manifesto. No
texto, denunciam a falta de medicamentos e dizem que “os médicos não têm
o que fazer e assistem os pacientes morrerem de infarto”. O Conselho
Regional de Medicina do Ceará (CRM-CE) também fez um manifesto para
protestar contra o que chama de “situação precária dos serviços de saúde
do estado” e a suspensão das cirurgias “por falta de insumos básicos”.
“Sistematicamente tem faltado medicamentos, tem sido suspensas
cirurgias por falta de fio cirurgico, de compressas. Pode haver morte
que poderia ter sido evitada”, afirmou o presidente do CRM-CE, Ivan
Moura.
O pai desta mulher, que prefere não ser identificada, está internado há
quase um mês com noventa por cento de entupimento nas artérias e
precisa urgentemente de uma cirurgia de ponte de safena.
“Nos foi informado que está em falta o aço cirúrgico pra cirurgia e
também os remédios pra recuperação dos pacientes. E a gente só tá
aguardando mesmo essa cirurgia porque sem ela meu pai não consegue
viver”, diz a filha de um paciente.
G1