Instalações elétricas em desacordo com a norma brasileira e falha de
isolamento em alguns pontos externos do aparelho celular proporcionaram a
descarga elétrica ao jovem Iago Aguiar Mendes, 16 anos, que morreu no
Colégio Santa Maria, no dia 7 de junho, em Tianguá. O laudo foi
divulgado nesta segunda-feira (20) pela Perícia Forense do Estado do
Ceará (Pefoce).
De acordo com o órgão, uma equipe do Núcleo de Perícia de Engenharia
Legal e Meio Ambiente, pertencente à Coordenadoria de Perícia Criminal
(Copec), fez testes no laboratório de informática onde o jovem sofreu a
descarga, bem como realizou perícia nos aparelhos eletrônicos que a
vítima utilizou. Iago estava assistindo à aula, quando colocou o
celular para carregar no computador. Quando foi atender a uma chamada,
levou uma descarga elétrica. Apesar de ter sido encaminhado ao hospital
da cidade, não resistiu ao choque e morreu.
Os peritos concluíram que "o local onde ocorreu o sinistro (laboratório
de informática) apresentava a instalação elétrica com alguns componentes
em desacordo com o que recomenda a norma NBR 5410/04 e não possuía DR" -
um tipo de interruptor automático, obrigatório por lei, que desliga o
circuito elétrico em caso de sobrecarga ou fuga de corrente na
instalação. A referida norma determina as condições adequadas para
instalações elétricas de baixa tensão, principalmente em prédios.
Ainda segundo o laudo, foi observada falha de isolamento em alguns
pontos da estrutura externa do celular da vítima, "que continha avarias
(danos), o que proporcionava a continuidade de corrente elétrica entre a
referida estrutura e a referência da porta USB". Apesar disso, o
perito da Pefoce Fernando Viana Queiroz assegurou que o cabo USB não foi
o responsável pela morte do jovem, já que ele fornece 5 Volts em média -
o que não é suficiente para causar nenhum dano à pessoa.
Iago sofreu duas descargas elétricas. A segunda foi de maior intensidade
e durou aproximadamente 18 segundos. "O fechamento do circuito através
do seu corpo se deu por meio do celular que se encontrava na mão
esquerda e a estrutura da bancada metálica onde a vítima estava em
contato através do membro inferior esquerdo", relata o laudo.
Dessa forma, o corpo do garoto, que estava com os pés apoiados na mesa
de metal onde o computador estava, virou uma corrente de eletricidade.
"A descarga elétrica ficou circulando pelo corpo do garoto por 18
segundos, até alguém interver e cortar a fonte de energia", explicou
Queiroz.
Ainda segundo ele, a faixa de corrente elétrica que passou pelo corpo
do garoto estava entre 50 e 110 mA. "Se a descarga tivesse durado 10
segundos, ele tinha 50% de chances de sobreviver", ressaltou o perito.
As irregularidades no colégio iam desde a instalação elétrica à mesa
utilizada para apoiar o computador, sendo totalmente de metal, sem
nenhum isolamento elétrico .
Homicídio culposo
O diretor do Departamento de Polícia do Interior Norte, Marcos Aurélio
Elias de França, disse que a morte de Iago Mendes é caracterizada como
um homicídio culposo - quando a morte ocorre em razões de neglicência,
imprudência ou imperícia - já que as irregularidades no circuito
elétrico do Colégio Santa Maria foram determinantes para o ocorrido.
"A escola é responsável pelo mal serviço da empresa que instalou a parte
elétrica no laboratório, logo ela e outras pessoas podem ser
responsabilizadas ao final do inquérito", ressaltou. Ele acrescentou que
pode pedir a interdição do colégio.
Diário do Nordeste