Entre 2007 e 2017, o Ceará registrou 22.220 mortes de jovens entre 15 e
29 anos. Este índice de homicídios faz o Estado assumir uma posição
preocupante: o 6º lugar no ranking de estados que mais matam a população
desta faixa etária. Apenas Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas
Gerais, Pernambuco superam essa marca.
Os dados da violência letal são evidenciados no Atlas da Violência 2019,
divulgado nesta quarta-feira (5) pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
A pesquisa revela ainda que, o Ceará, no intervalo de tempo analisado,
registrou 37.775 homicídios no total. Deste número, 58,8% dos mortos
foram pessoas entre 15 e 29 anos. No Estado, a violência cresceu nos 11
anos pesquisados e o reflexo é o aumento gradativo da quantidade de
mortes. Em 2007 foram 1.066 assassinatos de jovens, já em 2017, esse
número chegou a 3.348.
Thiago de Oliveira, sociólogo e coordenador-técnico do Comitê Cearense
pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA), avalia que estas
crescentes perdas da vida de jovens são fruto da reconfiguração do crime
organizado no Ceará. “Adolescentes cada vez mais novos estão sendo
recrutados pelos grupos armados e o crime vem aumentando. As forças de
segurança respondem, muitas vezes, de forma ostensiva e violenta,
aumentando a morte nos territórios e vulnerabilizando os jovens”,
pondera.
O CCPHA, instituído em 2016, faz mapeamentos de violência contra jovens
no Estado. Nestas pesquisas, de acordo com Thiago Oliveira, foi possível
perceber que as áreas em que mais acontecem assassinatos de mais novos
são territórios “segregados”. “Alguns territórios na cidade são muito
vulneráveis e permitem menos condições de assistência e educação aos os
jovens. Assim, eles saem da escola ,acabam sem opções e passam pelo
sistema socioeducativo, para a criminalidade”, analisa.
De acordo com o sociólogo, “esse público em maior risco precisa ser
identificado e precisa ter ações e políticas públicas voltadas para
eles”, para um futuro com menos taxas de mortes de jovens.
Mortalidade
O documento tem como base os dados de 2017 do Sistema de Informações
sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS). O levantamento aponta
o perfil dos homicídios no Brasil e traz um panorama da violência no
território nacional.
Na publicação, pesquisadores avaliam que, apesar dos dados alarmantes no
território nacional - o Brasil registrou 618.858 assassinatos da
população geral nesse intervalo de tempo "houve a continuidade de um
processo paulatino de redução de homicídio em um grande conjunto de
estados da federação, que já estava em curso nos anos anteriores". No
entanto, revela a pesquisa, o Norte e Nordeste impulsionaram a
continuidade e avanço dos índices de homicídios.
Conforme a análise, "a guerra entre as duas maiores facções criminosas
no Brasil (PCC e CV) e seus aliados regionais pelo domínio de mercados
varejistas e de novas rotas internacionais de tráfico de entorpecentes,
que atravessam por estados do Norte do país e chegam ao Nordeste"
influenciam diretamente o aumento de crimes nas regiões mencionadas. A
pesquisa menciona ainda que as maiores concentração de conflitos no
Norte e Nordeste estão nos estados do Acre, Amazonas, Ceará e Rio Grande
do Norte.
Diário do Nordeste



