O número de registros de óbito em cartórios cearenses assinados por
médicos como sendo por insuficiência respiratória e pneumonia é quase
quatro vezes maior do que os mesmos indicadores apontados pelo
Ministério da Saúde – os dados são utilizados pela Secretaria da Saúde
do Ceará (Sesa) para dar o panorama das comorbidades no Estado.
As duas complicações no aparelho respiratório são correlatas à Covid-19 e
podem representar uma possível subnotificação na contagem de mortes
provocadas pelo novo coronavírus.
O portal da transparência da Associação Nacional dos Registradores de
Pessoas Naturais (Arpen Brasil) aponta que entre janeiro e março deste
ano, 2.986 pessoas tiveram seus atestados de óbito registrados por essas
complicações; tendo 1.248 delas a insuficiência respiratória como
causa, e 1.738 a pneumonia.
Já o Ministério da Saúde, cujos dados foram repassados pela Sesa,
utiliza o Sistema de Informações Sobre Mortalidade (SIM). A plataforma
contabilizou 819 mortes pelas mesmas causas no período em questão. O
número do governo é 365% menor do que o dos cartórios.
De acordo com o infectologista Érico Arruda, é provável que haja mais
óbitos relacionados ao coronavírus nesses registros de insuficiência
respiratória e pneumonia. “Essa é uma tendência mundial e não é só
relacionada à Covid-19. Em todas as epidemias, quando se vai depois
olhar pra trás, quando se faz um processo arqueológico de garimpar, de
olhar para os dados e recuperar, se costuma perceber que se teve mais
casos do que se conseguiu documentar”, explica o médico.
Diário do Nordeste