Dotado às pressas e, em muitos casos, de forma improvisada para
atender às regras de isolamento social, o trabalho remoto, ou "home
office", tornou-se uma realidade para muitas empresas nos últimos três
meses. E a expectativa é de que setores com funções administrativas, por
exemplo, continuem no esquema de home office de forma definitiva mesmo
após a retomada das atividades econômicas. Para as companhias, o home
office permite a redução de despesas com aluguel de espaço físico,
energia, transporte, alimentação, dentre outras. Enquanto o funcionário
pode, por exemplo, usar o tempo gasto diariamente com deslocamento em
outras atividades.
"Com a quarentena, as empresas acabaram acelerando um processo que já
vinha sendo mapeado e implantado lentamente, e esse foco foi dado no
susto", diz Raul dos Santos, sócio da consultoria SGS Investimentos.
"Agora chegou-se à conclusão de que não precisava de tanto deslocamento.
Outro ponto é a questão de espaço físico. Todo mundo, quando pensa em
crescer, pensa em alugar mais salas, em aumentar a estrutura física, e
agora estamos vendo que não precisamos de espaço físico para crescer".
Segundo Patrick Lima Alex, diretor da CSI Locações, empresa
especializada em locação de equipamentos para eventos e construção
civil, já num primeiro momento, houve redução de custos com
vale-transporte e vale-refeição. "Além disso, os gastos com hora-extra
diminuíram bastante, porque o colaborador se tornou mais produtivo. A
gente estima que o nosso custo com pessoal será reduzido em cerca de
10%", diz.
Produtividade
Com relação à produtividade no trabalho remoto, acreditava-se,
inicialmente, que o rendimento do funcionário tenderia a cair, mas
passada a fase de adaptação, ocorreu o oposto. "Do dia 18 de março,
quando nós entramos no regime de home office, até o fim do mês, a gente
percebeu uma queda de produtividade, acredito que pelo ineditismo da
situação, pela adaptação, mas a partir de abril a gente viu uma
crescente muito grande da produção. A entrega por hora trabalhada
aumentou significativamente", frisa Raul dos Santos.
No mesmo sentido, Alex também diz que percebeu uma melhora na
produtividade, principalmente pelo tempo que os funcionários deixaram de
gastar com deslocamento. "Eu tenho dois funcionários que demoravam
cerca de duas horas no trânsito para chegar à empresa. Com certeza eles
passaram a ser mais produtivos, porque economizaram quatro horas por dia
que agora podem ser usadas para fazer cursos ou pensar coisas novas
para a empresa".
Entretanto, assim como as empresas tiveram pouco tempo para se
preparar para esse novo esquema de trabalho, também foi curto o período
para funcionários se acostumarem com novas ferramentas e rotinas para
cumprir suas metas. E aqueles com menor capacidade de adaptação poderão
perder espaço no mercado. "Não é novidade que para uma empresa crescer,
ela não pode abrir mão da tecnologia e essa aptidão independe da idade.
Agora nós pudemos perceber quem assimilou bem essas mudanças e promover
uma rápida oxigenação dos quadros da empresa", afirma Raul dos Santos.
A tendência é que, com o tempo, as empresas passem a incentivar, cada
vez mais, que seus funcionários trabalhem de casa. "Já há pesquisas
mostrando que tem gente gostando mais dessa forma de trabalho porque o
tempo renderia mais. Mas no home office você precisa ter uma agenda mais
estruturada", diz Adriana Bezerra, CEO da Flow Desenvolvimento
Integral, especializada em psicologia e gestão de empresas. "Por outro
lado, a interação com os outros colegas ajuda a desenvolver novos
produtos, a criatividade, porque o trabalho coletivo é muito rico".
(Diário do Nordeste)