Bebê que morreu em Tamboril teve inflamação que pode afetar crianças após quadro assintomático da Covid-19


O bebê de um ano que morreu, na quarta-feira, 8, vítima da Covid-19, em Tamboril, teve inflamação comum em crianças infectadas com a Sars-CoV-2. De acordo com o infectologista Robério Leite, a condição não se refere a uma complicação do novo coronavírus, mas é despertada a partir da Covid-19 em pessoas com predisposição genética. Segundo o médico, que é também pediatra, é a doença de Kawasaki, que pode aparecer semanas depois da criança apresentar infecção pelo coronavírus, mesmo em casos assintomáticos.

A mãe de Lucas Albuquerque Ricarte conta que, antes de descobrir que o filho estava com Covid-19, ele apresentou sintomas como problemas de garganta, dificuldade para respirar e cansaço. Ao levar o filho para fazer o exame de raio-x, ela narra que o médico não detectou problemas. Após dez dias tomando antibióticos receitados pelo médico no hospital de Tamboril, Lucas passou a ter sintomas mais graves.

A dor de garganta voltou, a criança perdeu o apetite, e começou a rejeitar alimentos e líquidos. Com isso, Jessika ficou ainda mais preocupada e decidiu levar o filho de volta ao hospital. “Levei para o hospital achando que fosse virose ou algo mais grave. Quando deu positivo para o coronavírus, eu e meu marido ficamos surpresos, porque a gente cumpriu a quarentena e seguiu as recomendações”, relata.

De acordo com Jessika, ao ver os resultados do exame, ela e o marido pensaram que também poderiam estar infectados. A preocupação também se estendeu para o marido, que faz parte do grupo de risco por ser diabético do tipo um. No entanto, após o teste, o resultado do exame para a Covid-19 deu negativo. A mãe acredita que o filho pode ter se contaminado a partir do contato com a parede da calçada ou ao tocar na superfície externa do carro.

Com o passar do tempo, a situação de Lucas foi se tornando mais grave. A doença chegou a se espalhar para o coração, ela conta. “Meu filho teve os sintoma iniciais relacionados à doença de Kawasaki. Foi confirmado que o coração dele estava aumentado e ele iria precisar de um tratamento com imunoglobulina”, detalha. Jessika relata que a condição do filho chegou a melhorar e piorar por algumas vezes.

A equipe do hospital tentou reanimá-lo por 50 minutos. E, apesar de todos os esforços, pelos quais Jessika diz ser grata, não havia mais o que fazer: “Nessa batalha, infelizmente, nosso anjo não conseguiu vencer. Ele venceu a Covid-19, a pneumonia, a inflamação grave no coração, mas não resistiu nessa outra parada que teve”, disse a mãe.

“Eu tive um sonho com ele na noite anterior. Não era incomum, foram muitos nesses dias. Mas no sonho ele me dava um beijinho na testa. Quando eu acordei, tinha várias mensagens e eu sabia que tinha acontecido alguma coisa”, ela acrescenta. O óbito foi declarado às 5h20min da manhã. Para Jessika, um dos consolos nesse momento de luto é deixar o alerta para evitar que outras mães passem pelo mesmo sofrimento.

Durante todo o tratamento de Lucas, ela acompanhou artigos científicos e estudou as complicações da doença. Foram esforços pela própria tranquilidade e para entender o que o filho enfrentava. “Eu soube que outras crianças aqui já tiveram [a síndrome inflamatória] e ninguém falou disso. Vou viver pensando que meu filho poderia ter sido salvo, se eu tivesse exigido o teste da Covid-19 no início”, desabafa.


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