As críticas feitas pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, à
Lava Jato causaram reação de integrantes das forças-tarefa da operação e
do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Já o presidente da
Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu a legitimidade de Aras
para questionar os métodos da investigação.
Ontem, o Ministério Público Federal afirmou que existe uma investigação
sigilosa em curso na corregedoria da instituição para apurar
"dificuldades" no acesso ao banco de dados da operação. "A apuração dos
fatos jogará luz e dará transparência aos procedimentos internos" do
MPF, segundo nota divulgada pela Procuradoria.
Em live anteontem do grupo Prerrogativas, Aras já havia dito que o
pedido de acesso a dados da Lava Jato faz parte da busca por
"transparência" no MP. "Todo o Ministério Público Federal, no seu
sistema único, tem 40 terabytes. Curitiba tem 350 terabytes e 38 mil
pessoas lá com seus dados depositados.
Ninguém sabe como foram escolhidos, quais os critérios", disse Aras.
Segundo o procurador-geral, dados obtidos por promotores e procuradores
não podem servir a "propósitos antirrepublicanos" e "não se pode
imaginar que uma unidade institucional se faça com caixas de segredos".
Afirmou ainda que "é hora de corrigir os rumos para que o lavajatismo
não perdure".
Em resposta a Aras, Moro afirmou que "desconhece segredos ilícitos" da
operação e que a investigação "sempre foi transparente". Em nota,
procuradores da Lava Jato declararam que "devem ser refutados ataques
genéricos e infundados às atividades de procuradores e as tentativas de
interferir no seu trabalho independente", diz o texto assinado pelo MP
no Paraná. "A ilação de que há caixas de segredos no trabalho dos
procuradores é falsa, assim como a alegação de que haveria milhares de
documentos ocultos. Não há na força-tarefa documentos secretos. Os
documentos estão registrados nos sistemas eletrônicos da Justiça Federal
ou do Ministério Público Federal e podem ser acessados", afirma o
comunicado da Lava Jato.
Maia, no entanto, defendeu o "alerta" de Aras. "A impressão que me dá é
de que (procuradores) não gostam de ser fiscalizados. Eu não vejo como
funciona o sistema de controle no momento em que o procurador-geral, que
é o responsável por todos os MPs, não deve, na opinião deles, ter
acesso a informações", afirmou Maia ao programa Manhã Bandeirantes,
ontem.
Procuradores e a cúpula da PGR entraram em choque após Aras determinar
diligência para o compartilhamento de informações da Lava Jato. Um grupo
de procuradores pediu demissão em junho. Dias depois, a PGR divulgou
nota na qual diz que "a Lava Jato não é órgão autônomo".
Estadão Conteúdo