A economia cearense deve crescer entre 2,4% (cenário mais pessimista) e
6,1% (cenário mais otimista) em 2021. A conclusão é de um estudo do
Núcleo de Pesquisas Econômicas (Nupe) da Universidade de Fortaleza
(unifor.Br/nupe). De acordo com os pesquisadores, o equilíbrio fiscal do
Estado e a tendência de recuperação do comércio e dos serviços devem
ser responsáveis pelos resultados positivos.
Para Allisson Martins, economista e coordenador do curso de Economia da
Unifor, a construção dos cenários levou em conta as possibilidades
estatísticas de controle da pandemia do novo coronavírus, a capacidade
de resposta da economia e a efetividade das estratégias dos governos
federal e estaduais. "Sem dúvida, a variável chave é o controle robusto
da pandemia, em que implicará no aumento do nível de confiança das
empresas e consumidores, fazendo com que a dinâmica econômica seja
acelerada".
Segundo ele, para o próximo ano, há uma previsão de retomada do
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará. "Comportamento
explicado, em parte, pelo equilíbrio fiscal das contas públicas do
Estado, no qual irá permitir o aumento dos investimentos públicos
estruturantes. Adicionalmente, para o próximo ano, acredito que as
atividades de comércio e serviços, que representam o maior peso no PIB, e
que apresentam tendência de recuperação mais rápida, devem ser os
catalisadores da recuperação econômica", avalia.
Para Ricardo Eleutério, economista e conselheiro regional do Corecon, a
tendência é que a economia cearense, assim como a brasileira, cresça em
V. Isso significa forte retração neste ano seguido por crescimento em
2021. "Nós teremos para o ano que vem um crescimento da economia
cearense acima da economia brasileira. Temos algumas previsões do Fundo
Monetário Internacional (FMI) e de organismos internos de que a
recuperação será em V. Então a economia mundial desacelera rapidamente
neste ano e cresce mais aceleradamente ano que vem. A economia nacional
do mesmo jeito, e a economia cearense também".
Setores
Além dos cenários pessimistas e otimistas, o Nupe também propôs um
cenário provável para a economia, cujo crescimento em 2021 no Ceará
seria da ordem de 4,2%. Conforme o professor Francisco Alberto Oliveira,
coordenador do Nupe, a agropecuária, embora seja o setor menos afetado
pela pandemia, tem menos participação no PIB do Estado, logo o impacto
no resultado é menos relevante que outros setores como indústria e
serviços.
Portanto, a agropecuária é "incapaz de evitar a queda prevista para
2020, que é influenciada fortemente pelo setor serviços, que tem uma
participação em torno de 78% no PIB do Estado, e sofreu bastante com a
queda de consumo provocada pela Covid-19".
"Como os setores serviços e indústria terão retração forte em 2020, o
que explica a previsão de queda provável de 4,9% no PIB do Estado,
seriam justamente a indústria e os serviços que liderariam a retomada do
crescimento da economia cearense a partir de 2021, justamente pela
expansão do consumo, que ficou reprimido durante o período da pandemia",
completa Oliveira.
Eleutério também diz que o setor de serviços terá um destaque especial
na recuperação da economia cearense, tendo o subsetor comércio forte
importância. "Comércio, educação, turismo, eventos, desde que se
encontre a vacina para a Covid-19, esses setores podem gerar uma
dinâmica positiva para a economia do Ceará. Também se deposita uma
expectativa positiva na construção civil, que faz parte da indústria. A
construção é um setor gerador de emprego, que via de regra cresce a uma
taxa superior a do PIB nacional e estadual. Foi bastante impactado nas
recessões, mas há uma sinalização que esse setor deve se recuperar e
então pode produzir uma boa dinâmica no ano que vem".
Já Martins afirma que, caso a vacina seja anunciada em breve, turismo e
entretenimento podem ganhar destaque. "Os setores de turismo e
entretenimento devem ainda sentir dificuldades nos próximos meses,
sobretudo pelo receio das famílias em viajar, além, da queda de renda
muito abrupta, principalmente das pessoas que atuam no setor informal e
dos desempregados. Mas a possibilidade de uma vacina pode reverter
totalmente esta situação, fazendo inclusive com que estes segmentos
possam ser a mola-mestra do crescimento econômico do Ceará".
Desaceleração
Para este ano, o estudo do Nupe aponta que a economia cearense deve
registrar quedas que variam de 7,3% (cenário mais pessimista) a 2,5%
(cenário mais otimista). Segundo Martins, não há setor que possa salvar o
PIB do Estado em 2020. "Infelizmente, neste ano não há setor que
'salve' a economia cearense, pois o impacto da pandemia no sistema
econômico foi de grande magnitude. Contudo, o que se estima, a partir de
dados de mercado, é que algumas atividades de comércio varejista, como
supermercados e hipermercados, não encerrarão o ano de 2020 no terreno
negativo, de maneira que pode somente amenizar a queda no PIB do
Estado", avalia.
Eleutério aponta ainda que a economia cearense deve terminar 2020 com
muitas dificuldades, apesar da retomada gradual. "Devemos ter uma queda
da renda considerável, uma taxa de desemprego elevada, empresas
fragilizadas. Devemos fechar o ano com indicadores de endividamento para
pessoas físicas e jurídicas mais elevados. Todavia, esse cenário de
algumas vacinas pode fazer essa recessão ser em V".
Mercado de trabalho
O professor Oliveira destaca que, mesmo antes da pandemia, a taxa de
desemprego já era elevada no Estado, que avançou em 2020 devido à
doença. "As expectativas para 2020 são que ela se eleve mais um pouco,
atingindo um percentual em torno de 13% e comece a declinar já a partir
do último trimestre desse ano.
A recuperação do mercado de trabalho é mais lenta. Primeiro porque as
empresas precisam recuperar a estabilidade financeira; e os novos
investimentos dependem, além da estabilidade política, das reformas
administrativa, tributária, dentre outras".
O POVO