Crise na saúde: Centrão ameaça Bolsonaro com o "impeachment"

 
Artur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, mandou ontem para o presidente Jair Bolsonaro um recado contundente e ameaçador. Em outras palavras, ele disse: ou o governo endireita (sem trocadilho) sua gestão, principalmente na condução da crise pandêmica, ou o Congresso Nacional utilizará “remédios políticos amargos”.


Tradução: Na linguagem do Centrão, o discurso de Lira, feito de sua cadeira presidencial no plenário da Câmara, pode ser traduzido como uma advertência de que, se a gestão do Ministério da Saúde não melhorar no curtíssimo prazo, com a redução do número de mortes pela Covid-19 e a aceleração da vacinação da população, o “impeachment” de Bolsonaro entrará na pauta do Congresso Nacional.


Mas, antes do impedimento do presidente, haverá o do ministro da Economia, Paulo Guedes, cujo sonho de aprovação das reformas tributária e administrativa, neste 2021, parece ter ido para o espaço junto com o resultado da 1) falta de coordenação da política de enfrentamento da Covid-19; 2) falta do gerenciamento do Programa Nacional de Imunização; 3) falta de vacinas; e 4) falta de articulação com os governadores.


A ameaça de Artur Lira, que é o coordenador do Centrão, agrupamento de partidos de ideologia fisiológica, acostumados ao toma lá, dá cá, chega justamente na hora em que parece haver a tempestade perfeita: baixa popularidade do presidente da República, caos na saúde, inflação em alta, empresários rebelando-se contra a inação do governo, oposição e mídia castigando o presidente durante as 24 horas do dia.


Sem as reformas tributária e administrativa, ruirá o esforço da equipe econômica, liderada por Paulo Guedes, que sonha com o reajuste das contas públicas, para o que deseja impor uma política fiscal austera, a começar pela reorganização da máquina da União, velha, caríssima, ineficiente, algo que não cabe mais no mundo moderno e tecnológico de hoje.

Guedes quer, com a reforma administrativa, por fim aos direitos e absurdos adquiridos pelo funcionalismo público federal, que tem supersalários, gratificações, férias de 60 dias e outras vantagens que 95% do trabalhador da iniciativa privada não têm. O déficit da conta da Previdência é alto por causa dos elevados e diferenciados proventos pagos pelo erário aos aposentados do serviço público federal, estadual e municipal.


E são as corporações do serviço público que hoje comandam a administração dos três poderes da República.


E o Centrão é não só o porta-voz, mas o operador das corporações no Congresso Nacional, ou seja, são os seus deputados e os seus partidos que viabilizam, por meio de projetos-de-lei, as benesses que não param de ser concedidas ao conjunto dos servidores, que têm estabilidade no emprego.


O discurso de Artur Lira foi avalizado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que, irritado porque sua candidata para o Ministério da Saúde não foi a nomeada pelo presidente Bolsonaro, que preferiu um cardiologista paraibano, também engrossou a posição do Parlamento contra o chefe do governo.


Há, pois, mais uma crise política, para cuja solução o presidente terá de colaborar, freando suas falas e reorientando sua gestão nos planos interno e externo – o ministro das Relações Exteriores, por exemplo, tem de, urgentemente, recolocar a inteligência e o prestígio do Itamarati a serviço do êxito do Programa Nacional de Imunização.


Os políticos profissionais – os mesmos que impedem, há longo tempo, o reordenamento das contas públicas e o efetivo combate à corrupção – estão, neste momento, a dominar a cena, para o que contam com a visível ajuda do Supremo Tribunal Federal e a cobertura da mídia.

Na democracia, é por meio da política que tudo se faz. Assim, torçamos para que, desta vez, os políticos conduzam o Brasil a uma serena, pacífica e correta saída para esta crise.

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