Zara recebeu clientes brancos sem máscara no mesmo dia em que barrou mulher negra alegando falta do item, diz polícia

 


A Polícia Civil apresentou na manhã desta terça-feira (19) vídeos que mostram clientes brancos na loja da Zara, em Fortaleza, consumindo alimentos e sem o uso correto da máscara, sem serem barradas. As imagens são de 14 de setembro, mesma data em que a delegada negra Ana Paula Barrosa foi impedida de entrar na loja porque consumia um sorvete e não usava a máscara corretamente. A policial denunciou a loja por racismo, e o gerente foi indiciado.

A Zara havia afirmado que a abordagem não foi motivada por questão racial, mas por causa de protocolos de saúde. Informou ainda que "não aceita nem tolera discriminação". A loja disse que não vai se pronunciar sobre o indiciamento do gerente.

Conforme o inquérito da Polícia Civil, a delegada Ana Paula Barroso, diretora-adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis, teve um tratamento diferenciado em relação a outros clientes que entraram no mesmo local sem usar máscara de proteção, mesmo sem estar se alimentando.

"O material visual obtido por meio do circuito interno da loja revela o tratamento diferenciado dado pelo funcionário da loja à vítima. Nas imagens, é possível ver quando a vítima é expulsa do local, quando minutos antes, o mesmo funcionário atendeu uma cliente que, mesmo não consumindo nenhum alimento, não fazia o uso correto da máscara. A cena foi observada em outras situações onde outros clientes também não foram retirados da loja ou abordados para que utilizassem a máscara de forma correta", informou a Polícia Civil.

 

Após o fim do inquérito, a Polícia Civil concluiu que o gerente da unidade, de 32 anos, praticou crime de racismo contra a vítima "por recusar, impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador".  

Ainda de acordo com o inquérito, foram ouvidas oito testemunhas, além da vítima e do suspeito. Entre as pessoas ouvidas, está uma mulher negra, de 27 anos, que relatou, em redes sociais, ter passado por situação semelhante, no final do mês de junho deste ano, na mesma loja. Ainda foram ouvidas duas ex-funcionárias do estabelecimento que relataram episódios de assédio moral e procedimentos discriminatórios na forma de atendimento a possíveis clientes.

Também foram ouvidos três seguranças do shopping onde a loja funciona, bem como o chefe de segurança do local, que voltou à loja com a vítima minutos após a expulsão.

O crime de racismo contra a delegada Ana Paula pode gerar reclusão de um a três anos e multa ao funcionário suspeito de cometer a discriminação racial, e também punição cível à loja, segundo a Comissão de Promoção da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE).

A lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define e pune casos de racismo prevê que tanto o estabelecimento quanto a loja podem sofrer punições judiciais, explica Tharrara Rodrigues, integrante da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB-CE. 

 

(G1/CE)

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